Regras clássicas para combater a agressão turca 1

Share Button

 24/11/2015, John Helmer, Dancing with Bears, Moscou

Tradução Vila Vudu

Há uma geração, um primeiro-ministro grego, que o Politburo Soviético em Moscou subestimara, derrotou um ataque turco contra território grego. Foi o primeiro-ministro Andreas Papandreou; a vitória aconteceu na batalha do Mar Egeu, de 26/3/1987. Antes daquela data, por mais de cem anos, nenhuma força russa repelira ataque turco. E desde 1991, os russos dizem que a Turquia tem sido “não apenas vizinho próximo, mas estado amigo.”

Papandreou preparou-se para sua luta sabendo perfeitamente que seus inimigos o viam como perfeito covarde. Tinha também a esperança de que, se atacasse com força e com suficiente velocidade, os inimigos ficariam atônitos e confusos e bateriam em retirada. A decisão também incluiu a certeza privada, que só Papandreou tinha, de que, de um modo ou de outro, os seus dias de vida estavam contados. E foi assim que a Força Aérea Grega foi mobilizada, informada sobre os alvos para ela designados e armada, apenas 90 segundos antes da ordem para decolar. Papandreou planejou o ataque com o presidente da Bulgária Todor Zhivkov, inimigo da OTAN, de modo que, no mesmo momento, colunas de tanques búlgaros estivessem andando na direção da fronteira turca, aliadas contra o histórico inimigo comum.

Papandreou também ordenou que fosse cortada a eletricidade de todas as bases e quartéis-generais norte-americanos de comando-e-controle em toda Grécia. Nem um pio, nem uma faísca, nenhum mínimo sinal emitido por espião estrangeiro ou traidor grego avisou turcos, norte-americanos ou russos sobre o plano de guerra de Papandreou.

No mês de janeiro anterior, Papandreou decidira que, se não saísse para ação ofensiva, os turcos avançariam sobre o espaço aéreo do Egeu e pelas águas, para testar a fraqueza dos gregos. Na sequência, imediatamente os EUA o deporiam em Atenas.

Ao final da batalha, não havia nenhuma baixa. Os turcos retrocederam e retiraram suas forças sem que os gregos tivessem de disparar um tiro. A única exceção foi o primeiro-ministro turco, Turgut Ozul – que teve de ser evacuado para Houston, Texas, vítima de ataque cardíaco. O resgate de Ozul foi um dos dois únicos movimentos bem-sucedidos que o governo Reagan acrescentou ao próprio currículo, à época. O outro foi conseguir que Papandreou autorizasse que alguém religasse a energia elétrica na base Nea Makri, de serviços de comunicações dos EUA.

PRRRTO

Presidente Ronald Reagan com o primeiro-ministro Turgut Ozal

 

Essa vitória notável não foi repetida por nenhum dos adversários históricos da Turquia, incluída a Rússia pós-soviéticos. Igor Sechin, ex-vice presidente do governo de Vladimir Putin, foi um dos que pregava que a Rússia esquecesse as lições da história no trato com os turcos e que ninguém precisaria tampouco aprender lições novas. E Putin nunca se decidiu a relembrar e ter em mente essas lições (velhas e novas) de como tratar turcos, até ontem.

Aqui uma relação sintética do que os russos têm de saber sobre turcos:

1. A Turquia nunca, em tempo algum, faz qualquer movimento militar sem que o Pentágono seja informado e autorize o movimento. Para que o ataque de ontem contra o jato SU-24 tenha acontecido como aconteceu, uma bateria de sinais de inteligência e outros meios de guerra eletrônica foram mobilizados, disparados e recebidos por uma unidade EUA-Turquia de comando comum, uma vez que o piloto do F-16 turco agiu com certeza de que os russos seriam apanhados de surpresa.

NÃO FOI, como anunciou o governo turco, “resposta automática à violação de nosso espaço aéreo”, porque o único espaço aéreo que havia ali era sírio, por mais que os turcos insistam em repetir que seria “zona de exclusão” reservada só para aviões turcos.

NÃO FOI, tampouco, como Putin anunciou, “punhalada nas costas”, aplicada pelos turcos. Também NÃO ACONTECEU, como Putin acrescentou, “apesar do acordo que assinamos com nossos parceiros norte-americanos para evitar incidentes aéreos”.

O que aconteceu foi ação determinada, frontal – e aconteceu por causa dos acordos que os turcos têm com o comando militar dos EUA. De fato, não pode ter sido genuína surpresa para Putin que, “em vez de imediatamente fazer contato conosco, tanto quanto já sabemos, os turcos procuraram seus parceiros da OTAN para discutir o incidente”. Putin estaria mais próximo da verdade se tivesse dito que suspeitava que a Turquia tivesse procurado “seus parceiros da OTAN” antes do “incidente”, isso sim.

2. Agressão que venha de Turquia e EUA pode ser derrotada por força muito menor, mas essa força tem de estar em prontidão constante, servindo-se de todos os recursos para ataque muito rápido e para garantir a surpresa da ação. Putin disse que o SU-24 russo foi atingido por míssil disparado por um F-16 turco, quando a aeronave russa estava 1 km além fronteira, dentro de território sírio. Se é verdade, a defesa aérea russa que dá apoio ao caça de combate teria de estar rastreando o avião turco, desde o instante em que decolou. Teria de ter rastreado a rota ascensional, e monitorado os movimentos eletrônicos que armam os mísseis para disparo, bem como toda e qualquer ordem para disparar mísseis. Os operadores russos de vigilância e controle e a tripulação do SU-24 teriam de ter detectado o avião hostil no radar e teriam de ter uma opção para ‘misturar’ e boicotar [orig. jam] todos esses sinais eletrônicos.

Se nada disso foi feito desse modo, do lado russo, se a tripulação do SU-24 não foi alertada do perigo que a ameaçava, nesse caso as forças russas não estavam no nível adequado de prontidão e a tripulação do SU-24 foi colhida de surpresa.

As consequências disso tudo não podem ser explicadas só com o comandante-em-chefe dizendo a um visitante – o Rei da Jordânia, que lá mentia descaradanebte, à frente de todos, que o presidente russo seria seu “irmão”: “nunca nos faremos de cegos ante crime como o que foi cometido hoje”. A palavra para os russos é essa: cegos – mas antes do ataque, não depois.

SU-24 FLIGHT PATH

Versão turca da rota do SU-24 (BBC, Turquia)

 

MoD flight path data shows Russian bomber never entered Turkish airspace.

Versão do Ministério de Defesa da Rús


3. Na Europa Ocidental, nos Bálcãs e no Oriente Médio, os turcos absolutamente não têm amigo ou aliado duradouro. Para que a estratégia russa não seja apanhada em emboscadas armadas pelos turcos, é preciso que a Rússia conte com aliados fortes como o Irã; fracos como Chipre e Sérvia e até com aliados vacilantes como os búlgaros, e a Rússia tem de aprender atentamente com a experiência deles, em suas guerras contra os turcos.

É perda de tempo e de fôlego os russos porem-se a tentar ‘explicar’ a Ankara que “avião e pilotos [russos] não eram de modo algum qualquer ameaça à República Turca.” Isso, porque os turcos sabem que nós sabemos que sim, os turcos ameaçam a Rússia, que lá estão trabalhando e financiando guerrilhas para que rachem ao meio o Cáucaso russo.

Os turcos sabem que a Rússia está empenhada em bloquear a expansão turca; e em proteger o Iraque xiita e os curdos, contra qualquer possível ataque turco.

E, se esses não forem os novos compromissos estratégicos, então é mais que hora de a Rússia cuidar de retirar imediatamente suas forças, antes de cair em mais e mais emboscadas sangrentas. E se os novos compromissos estratégicos forem esses, nesse caso as consequências são tão óbvias quanto imediatas.

Todos os russos correm risco de vida se viajarem à Turquia (a zona de exclusão aérea de Erdogan já está implantada unilateralmente). Mesmo ilegal, ela obriga os russos a proibir que aviões e cidadãos russos viagem à Turquia.

Mais que hora, também, para que os turcos comecem a treinar para aquecer casas e cozinhar comida, sem gás.

Share Button

Um comentário sobre “Regras clássicas para combater a agressão turca

  1. Responder mauro fernandez nov 26,2015 13:03

    Espetacular!Simples assim,Texto claro e objetivo

Deixar um comentário

  

  

  

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.