Putin grita “Paz!” e truca* Trump**

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3/3/2018, Eric Margolis (Blog)

Em dezembro de 2002, o presidente George W. Bush proclamou que os EUA abandonavam unilateralmente o Tratado dos Mísseis Antibalísticos de 1972 [ing. ABM Treaty] que interrompera o desenvolvimento de mísseis nucleares e de sistema de antimísseis para derrotá-los. Bush medíocre e arrogante achava que a tecnologia espacial dos EUA estaria avançando tão rapidamente que logo neutralizaria a força dos mísseis balísticos intercontinentais [ing. ICBM] russos.  Bush nunca passou de fantoche. O poder real que o fazia mover boca e braços e operava por trás dele era o vice-presidente Dick Cheney, principal neoconservador daquele governo, que zombou dos russos, falava da Rússia como “posto de gasolina” e estava decidido a pôr os EUA no trono da dominação global.  Na opinião de Cheney, o Tratado ABM estaria prendendo os EUA, impedindo o país de avançar rapidamente para aquele objetivo. Moscou, então em estado de total bancarrota, jamais conseguiria fazer frente aos EUA todo-poderosos. Moscou alertou que, ao abandonarem o Tratado ABM, os EUA reincendiariam uma terrível corrida armamentista. Vladimir Putin, naquele momento político praticamente desconhecido, jurou que a Rússia jamais se ajoelharia aos pés dos EUA como único colosso nuclear mundial. Essa semana, 17 anos depois, o mesmo Putin, agora presidente da Rússia, surpreendeu o mundo ao mostrar o novo arsenal de armas transportadoras de ogivas nucleares russas, que fez Washington tropeçar, trocando as pernas, sem saber para onde ir e o que dizer, e deixou Trump, presidente belicista e violento, com cara de idiota. Entre as novas armas da Rússia está o pesado míssil intercontinental balístico RS-28, que a OTAN já batizou de “Satã 2”. Esse míssil monstro movido a combustível líquido pode transportar até dez ogivas nucleares até mais de 10 mil quilômetros (6 mil milhas). O que o torna diferente de outros ICBM’s é a capacidade (foi o que disseram os russos) de transportar veículos hipersônicos em órbitas terrestres baixas que podem atacar os EUA de várias direções, sem serem vistos pelos sistemas de radar dos sistemas antimísseis. O presidente Putin também revelou um novo míssil armado com ogiva nuclear e movido por um motor nuclear miniaturizado que pode permanecer ativo por longos períodos e sobrevoar a América Latina e a Antártica e atacar os EUA pelo sul. Os EUA tentam desenvolver esse tipo de motor movido à energia nuclear desde o final da década de 1950, mas sem sucesso. Durante os mais corruptos anos da corrupta era Yeltsin, o Kremlin recebeu quantidades astronômicas de suborno em dinheiro para vender aos EUA um reator miniaturizado projetado para fornecer energia a satélites de vigilância sobre os oceanos. O reator nuclear miniaturizado de que Putin falou opera como motor do novo submarino russo tripulado à distância que pode transportar enorme carga nuclear explosiva – que alcança mais de 25 megatons – até o litoral dos EUA ou a qualquer dos porta-aviões dos EUA pelo planeta. Putin também revelou uma nova asa-delta hipersônica a ser lançada do espaço (EUA e China também trabalharam em projeto desse tipo, até aqui sem sucesso), e um míssil q pode ser lançado de aeronaves Mach-10, batizado ‘Kinzhal’, referência à adaga curva, mortal, que os montanheses do Cáucaso usam à cintura. E, como se não bastasse, também falou de um sistema de armas a laser que já está em operação. Os EUA trabalham num projeto desse tipo, ainda sem sucesso, desde a Guerra do Vietnã. Tudo isso é ação política tipo arrasa-quarteirão. Claro que é possível que Putin tenha exagerado, mas é homem conhecido por sempre dizer a verdade, o qual, diferente dos políticos ocidentais, raramente doura as pílulas, mesmo as mais amargas. Em seu discurso, Putin disse que “não quiseram nos ouvir” – sobre as várias tentativas que Moscou empreendeu para restaurar algum acordo sobre armas estratégicas, reduzir arsenais nucleares e diluir tensões com o ocidente. E concluiu: “Agora nos ouvirão”. Mas… Washington ouvirá alguma coisa? Trump acaba de anunciar um projeto gigantesco para modernizar o arsenal nuclear dos EUA e grande aumento no orçamento militar, de $634 bilhões, para $716 bilhões, com adicional de $69 bilhões para financiar ‘guerras estrangeiras’ [ing. ‘foreign wars’]. O orçamento militar real dos EUA está chegando ao $1 trilhão (mil bilhões!), sem contar o orçamento da inteligência dos EUA, maior, só ele, que todo o orçamento anual da Defesa da Rússia, magros $42,3 bilhões. O partido da guerra em Washington meteu-se na própria cabeça que a Rússia pode ser intimidada e, mais uma vez, destruída até o esqueleto. Vladimir Putin é inteligente e experiente demais, para deixar que isso aconteça. Visivelmente ultrapassou os mais furiosos sonhos de Trump, gritou “Truco!” e mostrou que o que Trump diz, não se escreve. O mesmo, aliás, que fez, também com sucesso, Kim Jong-un, da República Popular Democrática da Coreia. Deve-se esperar que o show de Putin, essa semana, baste para intimidar o estado-profundo que governa Washington – e que essa semana andou tentando agravar ainda mais as relações com a Rússia no Oriente Médio, na Ucrânia, no Báltico e no Mar Negro. Bem fará essa gente, se ouvir Putin. As ogivas nucleares que podem viajar num único dos novos mísseis RS-28 podem destruir um Texas, ou uma França. Os novos mísseis russos e ‘asas-deltas’ lançadas de veículos estacionados no espaço podem facilmente entrar sem ser vistos pelos radares antimísseis que os EUA mantêm no Alasca e na Romênia – o que torna esses radares tão imprestáveis como a Linha Maginot dos franceses. Ninguém em nenhum caso, nunca, deverá admitir que os EUA façam guerra contra Rússia e China. Estaremos pondo em risco a própria vida no planeta, por causa de uma disputa estúpida pela posse de alguma cidade na Ucrânia, na Síria ou em Iowa, da qual ninguém jamais ouviu falar?! Difícil. Mas, sim… os neoconservadores [e os Democratas à Clinton-Obama (NTs)], sempre podem conseguir um jeito!*****

*Trucar. Verbo. No jogo de baralho “truco”, especialmente na região da fronteira do RS com a Argentina, onde a prática desse jogo é comum, “trucar” é dobrar o valor da aposta (em tentos, que são os pontos), como “retrucar” é dobrar novamente. A qualquer momento da “mão” que está sendo disputada, um dos jogadores anuncia: “Truco”. O outro tem três alternativas: a) “não quero”, perdendo a mão e um tento para o desafiador; b) “quero” e a mão passa a valer dois tentos para o vencedor; c) “quero e retruco”, passando a mão a valer três tentos. Nesta última hipótese, o primeiro que trucou pode, por sua vez, responder “não quero”, perdendo dois tentos, “quero”, seguindo a disputa pelos três tentos e ainda “quero e vale quatro”, perdendo quem retrucou os três tentos, ou “quero”, seguindo-se a mão até final. No jogo da fronteira, essas palavras são sacramentais. “Vou querer” ou “aceito” não valem por “quero”, como “dobro a parada” ou “aumento a aposta” ou “vou trucar” não valem por “truco” ou “retruco”. Assim sendo, dentro do jogo, não há sinônimos (Dicionário Informal, em. http://www.dicionarioinformal.com.br/trucar/ [NTs].

** Título original “Putin Trumps Trump”, intraduzível. “To trump“, verbo (ing.). significa “vencer o jogo usando a carta-trunfo [trump]”. A tradução acima é tentativa. Correções e comentários são bem-vindos [NTs].

Traduzido por Vila Vudu

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