Partidos árabes em Israel se organizam para tentar barrar reeleição de Netanyahu

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Guila Flint | Tel Aviv – 17/12/2014

Após aumento da cláusula de barreira eleitoral, três partidos que representam árabes tentam formular estratégia para barrar avanço da direita

Como unir liberais, nacionalistas, comunistas e islamistas em um só partido?

Se os políticos que representam os cidadãos árabes de Israel não se unirem, correm o risco de ficar fora do parlamento que deverá ser eleito em março de 2015.

A mudança da lei de cláusula de barreira, que elevou o mínimo necessário de 2% a 3,25% dos votos para que um partido possa entrar no parlamento, foi promovida pela coalizão de direita que lidera o país em nome da “governabilidade”. Ela é vista, no entanto, como meio para excluir os partidos árabes que, juntos, têm atualmente 11 deputados (entre 120).

Lideres desses partidos, que conversaram com Opera Mundi, afirmam que estão trabalhando para se unir. Porém, não escondem as dificuldades no caminho. Com a antecipação das eleições, de outubro de 2017 para março de 2015, eles não têm muito tempo para se reestruturar e, além da urgência, os líderes árabes também mencionam um sentimento de “emergência” diante da investida da direita contra os direitos da população árabe.

Segundo o deputado Jamal Zahalka, líder do partido Balad (Aliança Nacional-Democrática), “vamos unir os partidos e aqueles que queriam excluir nossos 11 representantes vão se deparar com 15 no próximo parlamento”. “Há um grande entusiasmo no público árabe pela unificação. Todos sentem que, diante da onda de racismo contra nós, devemos nos unir e unidos obteremos mais votos do que separados”, afirma.

Arquivo pessoal

Deputado Mohamed Barakeh, líder do Partido Comunista, diz que a unificação dos partidos árabes pode ser complicada

Já para o deputado Mohamed Barakeh, lider do Partido Comunista, a unificação dos partidos árabes pode ser bem mais complicada. “Antes de tudo, não somos um partido árabe, somos um partido árabe-judeu, acreditamos na parceria entre os dois povos e temos um deputado judeu em nossa bancada, Dov Hanin”, diz Barake.

“Os projetos de lei racistas não distinguem entre islamistas e comunistas, afetam todos os cidadãos árabes, mas mesmo assim é bem difícil conciliar visões de mundo tão diferentes”, afirma.

Todos os deputados consultados por Opera Mundi mencionaram o projeto de lei do Estado-nação judaico, encaminhado ao Parlamento pelo primeiro-ministro Netanyahu poucas semanas antes da decisão de antecipar as eleições. O texto, que estabelece direitos coletivos em Israel “só para o povo judeu”, visa ancorar em uma lei básica o status de 1,7 milhão de árabes-palestinos cidadãos do país como de segunda categoria e eliminar o caráter oficial da língua árabe.

Com a dissolução do parlamento, o projeto de lei foi congelado, porém será reativado se a atual coligação governamental voltar ao poder.

“Catástrofe”

“Temos que fazer tudo para impedir que a coligação de direita volte ao poder”, diz Ibrahim Sarsur, lider do partido islamista Raam. “Se eles voltarem ao poder, será uma catástrofe, tanto para a perspectiva de paz entre israelenses e palestinos como para os direitos dos cidadãos árabes em Israel.”

“Com a unificação dos partidos, acredito que poderemos aumentar o índice de comparecimento às urnas do nosso público de 55% para 70%”, avalia o deputado, “e assim poderemos contribuir para que um bloco de centro-esquerda assuma o governo, pois nosso partido unificado certamente votará contra Netanyahu”.

Agência Efe

Netanyahu convocou eleições antecipadas para tentar formar um governo à direita, sem coligação com centro-esquerda

No entanto, nem todos acreditam que a unificação dos partidos necessariamente levará a um aumento dos votos.

Para Dov Hanin, do Partido Comunista, pode acontecer justamente o contrário. “Devemos levar em conta que um eleitor islamista não necessariamente desejará votar em um partido no qual participam comunistas e vice-versa”, acredita.

Hanin mencionou a possibilidade de se criar um “bloco técnico”, ou seja, uma lista conjunta que se dissolveria logo após as eleições e na qual cada partido conservaria seu caráter especifico sem precisar abrir mão de seus princípios.

Tal bloco poderia tornar-se o fiel da balança nas próximas eleições, fortalecendo a ala de centro-esquerda e barrando o retorno dos partidos de direita Likud, Habait Hayehudi e Israel Beitenu, ao poder.

 

 (*) Guila Flint cobre o Oriente Médio para a imprensa brasileira há 20 anos e é autora do livro ‘Miragem de Paz’, da editora Civilização Brasileira.

Publicado por Opera Mundi

 

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