OPEP diz que não barrará queda de preço do petróleo;entenda os motivos da baixa

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Patrícia Dichtchekenian |Opera Mundi – 15/12/2014 

Rússia, Irã, Nigéria e Venezuela são principais atingidos por política de uma Opep liderada pela Arábia Saudita que não vê problemas com a commodity em baixa

A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) não vai interferir no preço do petróleo mesmo que atinja US$ 40 o barril e esperará ao menos três meses antes de considerar uma reunião de emergência do órgão, declarou nesta segunda-feira (15/12) o ministro da Energia dos Emirados Árabes Unidos, Suhail Al-Mazrouei, à Bloomberg. Após quase cinco anos de estabilidade, o preço do petróleo caiu mais de 40%, quando foi de US$ 115 por barril a um preço abaixo de US$ 70 em seis meses.

No fim de novembro, a Opep, que controla quase 40% do mercado mundial, se reuniu em Viena para tentar chegar a um acordo a respeito das restrições de produção, mas a crise não foi resolvida e o petróleo continuou a cair. Em meio a um cenário de incertezas, países exportadores da commodity – como Rússia, Nigéria, Irã e Venezuela – foram duramente atingidos. Mas por que o preço do petróleo permanece em queda?

Wikicommons

Sede da Opep em Viena (capital da Áustria): órgão produziu quantidade superior de petróleo do que mercado internacional esperava

Em geral, o preço do petróleo é parcialmente determinado pelas leis da oferta e da demanda, e – por outro lado – pela expectativa e especulação. No entanto, a demanda por energia também acaba sendo alterada a partir de fatores como atividade econômica, questões sazonais (necessidade de ar condicionado no verão e aquecimento no inverno), turbulências geopolíticas e, claro, decisões tomadas pelos membros da Opep – que produziu muito mais do que o mercado internacional esperava em 2014.

No atual panorama de queda de quase 40% no preço do petróleo, observa-se que esses fatores foram alterados nos últimos meses. Em virtude da fraca atividade econômica, a demanda energética é baixa. Somado a isso, crises em países com significativa participação na produção de petróleo, como Líbia e Iraque, também afetam o cenário. No caso de Iraque, particularmente, estima-se que o  Estado Islâmico tenha conseguido controlar importantes refinarias, obtendo o lucro de até US$ 2 milhões por dia ao grupo extremista com a venda no mercado negro.

Mas é preciso levar outras questões em consideração. Neste ano, os Estados Unidos se tornaram o principal produtor de petróleo no mundo. Embora não exporte petróleo bruto, hoje o país importa muito menos, o que gera muito mais estoque e desequilíbrio no mercado internacional.

Luciana Taddeo/Opera Mundi

Posto de gasolina em Caracas: nos últimos seis meses, petróleo teve queda de 40% do seu preço

Finalmente, o papel da Arábia Saudita neste contexto é fundamental para compreender a atual crise no petróleo: o país produz cerca de 10 milhões de barris por dia, um terço do total da Opep, e pode tolerar baixos preços da commodity, já que o petróleo saudita apresenta o custo mais baixo mundial: de US$ 5 a US$ 6 o barril.

Com US$ 900 bilhões em reservas e forte influência nas reuniões da Opep, a Arábia Saudita optou por não sacrificar a própria quota de mercado para restaurar o preço. Eles poderiam reduzir fortemente a produção, mas os principais benefícios iriam para países que eles detestam, como Irã e Rússia, e é aí que entram as fissuras geopolíticas.

Teerã e Moscou são exemplos de governos dependentes de um alto preço no petróleo para pagar gastos com investimento bélico internacional custoso. No caso russo, ainda, as sanções ocidentais impostas em meio à crise na Ucrânia e a constante desvalorização do rublo em relação ao dólar apontam para um cenário ainda mais pessimista. Em manobra semelhante, a Nigéria teve que aumentar as taxas de juros e desvalorizar o naira. E como se comportaram os países latino-americanos nesse panorama?

Efe

Abdalla Salem El-Badri, secretário-geral da Opep, participa de reunião ministerial do grupo, dia 27 de novembro de 2014, em Viena

América Latina

A Venezuela é dona das maiores reservas de energia do mundo e o petróleo é responsável por 95% das suas exportações. Como o país depende exclusivamente do “ouro negro” para garantir as exportações, uma queda nas cotações do petróleo pode ameaçar futuramente a economia – já frágil – da Venezuela. No início de outubro, Caracas chegou a pedir que a Opep realizasse uma reunião de emergência para segurar a queda nos preços internacionais do petróleo, mas sua baixa influência no órgão favoreceu que seu pedido não fosse levado em conta.

Como resposta à decisão da Opep de manter a produção de 30 milhões de barris diários mesmo diante da queda internacional no preço do petróleo, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciou no fim de novembro medidas de redução orçamentária e cortes nos gastos públicos, que incluem ainda a revisão salarial de altos funcionários governamentais.

Devido aos baixos preços de venda no mercado interno, a PDVSA (companhia estatal Petróleos de Venezuela) trabalha com perdas, já que uma gasolina chega a ser vendida a um valor quase 30 vezes menor que o custo de produção. A Venezuela vende internamente um litro de gasolina de alta octanagem a 0,097 bolívares (equivalente a R$ 0,03). No Brasil, por exemplo, cobra-se, em média, R$ 2,90 por litro de gasolina (o que tende a aumentar).

Efe

Maduro assegurou que “está em condições de resistir à baixa do petróleo”, mas criou comissão para “racionalização do gasto público”

Esse rombo é, em certa medida, semelhante ao que passa Petrobras atualmente. No caso do Brasil, tal queda no preço da commodity pode ser nociva à Petrobrás em longo prazo, e a exploração do petróleo passaria a atrapalhar os negócios da companhia se a queda for duradoura e se chegar a um preço inferior a US$ 45, segundo analistas. Por isso, é preciso considerar o panorama internacional e analisar consequências diretas e futuras do impacto do preço do barril em território nacional.

Além de Venezuela e Brasil, outro país latino-americano que vê a queda do preço da commodity com cautela é o México. Na quinta-feira (12/12), o governo mexicano anunciou a licitação de 14 blocos petroleiros no Golfo do México às empresas nacionais e estrangeiras, uma decisão inédita que abre a indústria ao capital privado após 76 anos de monopólio estatal. Em meio à instabilidade no mercado energético, a proposta foi elaborada com o intuito de ajudar o Estado Mexicano a não concentrar todos os riscos no setor.

Em coletiva de imprensa, o ministro da Energia, Pedro Joaquín Coldwell, ressaltou que a medida foi tomada “em um entorno de volatilidade dos preços do mercado internacional de petróleo que obrigarão as empresas a serem mais seletivas quanto aos países e as áreas onde investirão”.

Trata-se da primeira licitação pública de jazidas de petróleo no México para que companhias explorem sob o esquema de contratos de produção compartilhada por um período de 25 anos. Com essa chamada “reforma petrolífera”, Coldwell acredita que o México freará a queda de suas reservas de petróleo e gás e “poderá reincorporar com maior força e certeza ao mercado energético mundial”.


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