O que Trump precisa saber sobre o Irã?

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Seyed Hossein Mousavian1, Tehran Times, 08/01/2017

Tradução Livre de Abu Hana J.T. Cairus

A eleição de Donald Trump pode ser enervante para muitos líderes mundiais, mas eles não têm escolha senão se relacionar com o presidente eleito da nação mais poderosa do planeta. Exceção feita ao Irã, que mantem relações extremamente hostis com os EUA.

É fascinante que o triunfo de Trump sobre Hillary Clinton foi previsto pelo líder supremo do Irã ao declarar, antes da eleição, que Trump tinha apoio dos norte-americanos por causa de sua franqueza acerca das realidades nos EUA. Contudo, o aiatolá Ali Khamenei acredita que os EUA possuem um sistema político corrupto que encoraja o surgimento de grupos terroristas, como o autoproclamado “Estado islâmico” e a al-Qaeda e gera instabilidade no Oriente Médio ao promover intervenções militares na região. Assim, ele argumenta que há pouco interesse por parte do Irã em investir na normalização das relações com aquele país. Segundo ele, nas condições vigentes, relações diplomáticas com os EUA seriam particularmente nocivas. Este posicionamento, coincidentemente é compartilhado por alguns funcionários norte-americanos de alto-escalão.

Ambos, o aiatolá Khamenei e o presidente Hassan Rouhani, se manifestaram após a eleição norte-americana: “A troca de presidente, aqui e acolá, não influencia a determinação do Irã” declarou Rouhani acrescentando que os iranianos permaneceriam comprometidos com a acordo nuclear. Já o aiatolá Khamenei declarou que o Irã “não opina sobre a eleição norte-americana”, mas está “pronto para qualquer situação. ” No entanto, as declarações de Trump durante a campanha confirmam a visão do aiatolá Khamenei sobre os EUA. Todavia, ainda é uma incógnita se Trump irá mudar a posição vigente na política norte-americana após 38 anos de impasse nas relações EUA-Irã. Caso isso ocorresse, seria o feito diplomático do século. Por outro lado, Trump pode também colocar um fim na política do presidente Barack Obama em relação ao Irã levando Washington e Teerã a um confronto em escala total. Opositores do acordo nuclear em Washington já se movimentam para reintroduzir sanções com intuito de fazer os líderes iranianos desistirem do acordo. Após as últimas eleições, com a posse do novo Congresso norte-americano, várias propostas hostis aos iranianos têm sido colocadas em pauta, incluindo as que imporiam sanções ao programa de misseis balísticos do Irã. A despeito da política a ser adotada pelo novo presidente há coisas que Trump deve saber sobre o Irã, aqui estão algumas:

  1. Os EUA sabotaram na democracia iraniana

Os EUA, através da CIA, contribuíram para o fim da democracia iraniana no seu nascedouro. Juntamente com a Inteligência britânica orquestraram, em 1953, um golpe de estado que depôs Mohammad Mossadegh, primeiro-ministro iraniano eleito e “culpado” por nacionalizar a indústria iraniana de petróleo. O resultado foram 25 anos sob a ditadura do xá. Em 1979, a revolução representou a reação do povo iraniano a décadas de tirania e domínio norte-americano.

2. A política de mudança de regime é contra produtiva

Após a Revolução Iraniana, os EUA adotaram uma política agressiva que visava derrubar o regime iraniano aplicando toda as medidas possíveis para pressionar o governo pós-revolucionário. Isto incluiu apoiar o ditador iraquiano Saddam Hussein, durante a agressão contra o Irã, que resultou em 100.000 iranianos mortos e feridos pelas armas químicas iraquianas. Também, a partir dessa época, os EUA começaram, pela primeira vez utilizada como arma de guerra, uma verdadeira “campanha cibernética” contra o Irã. Além disso, o governo norte-americano impôs sanções draconianas de punição coletiva contra a população iraniana. Simultaneamente, o Irã utilizou toda sua capacidade para confrontar os EUA. A despeito de tudo, o Irã é na atualidade um dos países mais poderosos e estáveis naquela região enquanto os aliados norte-americanos, desfrutando de imenso suporte por décadas entraram em colapso ou enfrentam grandes dificuldades.

  1. O acordo nuclear é a maior vitória da política de não-proliferação nuclear

Significativamente, Trump tem declarado que as políticas anteriores do EUA na região, preconizando mudança de regime, foram erros que não devem ser repetidos. Porém, Trump também tem criticado o acordo nuclear com os iranianos o qual ele recentemente, via tweeter, classificou como “horrível”. Ao contrário, o tratado emblemático demonstrou ser o mais abrangente acordo de não-proliferação nuclear da história, concebido de acordo com os padrões internacionais mais rigorosos e obliterando qualquer possibilidade de construção de uma bomba atômica. Trump pode destruí-lo ou então utilizá-lo implementando os princípios vigentes no acordo para realizar o sonho de meio século de transformar o Oriente-Médio em uma Zona Livre de Armas Nucleares (NWFZ).

1 Seyed Hossein Mousavian é especialista em Política Nuclear na Princeton University e autor do livro “Iran and the United States: An Insider’s View on the Failed Past and the Road to Peace.”

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