Nova tradução d´O Capital 1

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Até como marxista há quase 40 anos, estudando a obra de Marx, Engels e Lênin, não é fácil falar dessa que é a mais magistral obra produzida por esse filósofo, historiador, economista e sociólogo chamado Karl Marx (1818-1883). Este espaço é pequeno para falar da obra de Marx. Se pudéssemos resumir em uma palavra, diríamos como o economista Delfim Neto disse: “Marx é eterno. Não é moda!”. De acordo.

lejeune

A primorosa edição, como todas as duas traduções anteriores existentes no Brasil, é feita direto do alemão e da sua quarta edição. A mais antiga, é da editora Civilização Brasileira (a que tenho e estudei nela), com nove volumes os quatro livros e o tradutor foi Reginaldo Sant’Anna. A segunda é da editora Nova Cultura e os tradutores são Flávio Kothe, Paul Singer e Régis Barbosa. É da coleção Os Pensadores. Esta última tem apenas três livros originais. Como sabemos, Marx publicou em vida apenas o Livro I, desta edição. Os Livros II e III foram organizados e compilados por Friedrich Engels a partir dos manuscritos do próprio autor. O livro IV foi organizado por Karl Kaustsky e saiu apenas em 1905. Chama-se Teorias da Mais Valia.

Esta tradução tem a maior novidade, de meu ponto de vista, do que todas as outras e mesmo em toda a literatura marxista existente no Brasil. O conceito central na obra de Marx, que sempre o conhecemos por Mais Valia vem agora traduzido por Mais Valor. Tem muito mais sentido. Até porque o centro do pensamento econômico de Marx, que vai explicar como o capital vai crescer a partir do trabalho produtivo, só tem sentido com a exploração do trabalho e da parcela de valor agregado pelos proletários e trabalhadores produtivos que vai trazer a riqueza para os capitalistas e a classe burguesa. É muito mais fácil de compreender, palatável a tradução para Mais Valor.

Ainda sobre a edição da BoiTempo, vale registrar que a obra tem uma  presentação do historiador Jacob Gorender, 22 páginas. Ainda assim, é um resumo – autorizado pelo autor – da sua apresentação da edição da Nova cultural. Há ainda uma “advertência”, por assim dizer, do filósofo francês Louis Althusser de mais 19 páginas. Excepcional. Ele menciona aos leitores o porquê ler O capital e o mais importante como ler o Livro I. Seguindo a própria terminologia marxista, Althusser usa o termo “proletário” ou “operários assalariados da produção” para definir aquela classe social de trabalhadores produtivos que produzem o Mais Valor e com seu trabalho enriquecem os capitalistas.

De que trata centralmente este primeiro volume? A questão central estuda em Profundidade por Marx e explicada aos leitores trata do modo de produção capitalista, suas relações de produção e circulação que lhe correspondem, ou seja, mercadoria em suas diversas formas e da acumulação primitiva. Como o dinheiro se transforma em capital. E isso só será possível, segundo Marx, pelo trabalho produtivo dos proletários. E para que isso ocorra, é preciso a exploração do trabalho, a extração de Mais Valor que vai gerar maior riqueza para os patrões. Há um debate sobre o chamado Mais Valor tanto o relativo (mais maquinaria) e absoluto (maior jornada). Aqui Marx deixa claro que os patrões por vezes convocam os seus empregados para mais horas-extras não porque estão preocupados com o aumento das suas rendas, mas para lhes explorar mais e de forma que eles lhe rendam mais lucro.

A questão dos salários é tratada por Marx nesse volume. Seja salário por tempo ou por peça. E os proletários em geral (da indústria ou dos serviços) devem sempre lutar por melhores salários. É uma forma de ser ofensivo contra o capitalismo, pois há uma tendência no sistema capitalista pela diminuição dos salários dos trabalhadores em geral e oura tendência em aumentar sua jornada de trabalho. Isso faz parte da luta de classes em uma sociedade dividida em duas grandes classes sociais. Há muitas outras dificuldades teóricas tratadas neste primeiro volume. Marx aborda a questão do valor e da forma-valor; a questão da quantidade de trabalho socialmente necessária; a teoria do trabalho simples e complexo; a teoria da composição orgânica do capital.

É preciso deixar registrado que, mesmo Marx tendo dito diversas vezes que a compreensão da “lei do valor” está ao alcance de uma criança, os leitores do Livro I irão perceber que muito do que ele fala só será mesmo elucidado e resolvido nos volumes seguintes e certas soluções só serão desvendadas posteriormente. E para quem leu a obra como um todo, isso é uma verdade.

Esta edição brasileira é a 4ª edição alemã. Explico. Tem o prefácio do próprio Marx à 1ª edição alemã. Ele é datado de 25 de julho de 1867. Há ainda um posfácio da 2ª edição alemã, datada de 24 de janeiro de 1873, ainda assinada pelo próprio Marx. Há uma página única de um pequeno prefácio da edição francesa, que saiu em fascículos, datada de 18 de março de 1872, bem como o posfácio de 1875, ambos com Marx assinando ainda. Por fim, já com Engels no comando, pois Marx havia morrido em 1883, temos o prefácio da 3ª e 4ª edição alemã, assinada agora por Engels, que fi cara com todos os manuscritos e são datadas  respectivamente de 7 de novembro de 1883 e 25 de junho de 1890.

Nesse meio, o prefácio da1ª edição inglesa de 5 de novembro de 1886 também com Engels. Há centenas de notas  explicativas tanto de Engels, quanto do tradutor, que usa a edição compilada pelo Projeto Mega que se propõe a reunir todos os escritos de Marx e Engels e é o maior em curso hoje para reunir tudo que esses dirigentes do proletariado produziram. Recomendo não só a leitura dessa magnífica obra de Economia, mas também de Política, Filosofia e Sociologia.

Parabéns à BoiTempo por essa nova tradução.

* Lejeune Mirhan é sociólogo, escritor, professor e arabista. Foi professor da Unimep de 1986 até 2006. Presidiu o Sindicato dos Sociólogos de 2007 até 2010. Tem diversos livros publicados, sendo que o último é E se Gaza cair… da Editora Anita Garibaldi, 2012.

O CAPITAL  LIVRO I
AUTOR  Karl Marx
EDITORA  BoiTempo
ANO  2013
PÁGINAS  856
TRADUÇÃO: Rubens Enderle
PREÇO  R$98,00

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Um comentário sobre “Nova tradução d´O Capital

  1. Responder Edson Siqueira abr 14,2024 18:08

    Rubens Endearle, peça chave para os livros de Karl Marx no brasil parabéns… a Boitempo

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