Narrativa “midiática” e realidade da guerra dos EUA contra a Síria

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14/8/2015, Moon of Alabama

Tradução Vila Vudu
O artigo do Washington Post “It Never Happened” [Nunca Aconteceu], sobre a Síria que registramos ontem nem de longe é o único que absolutamente não informa sobre o íntimo envolvimento dos EUA na guerra inventada contra a Síria.

Hoje, artigo no New York Times mente descaradamente:

Os EUA evitaram qualquer intervenção na guerra civil entre rebeldes e o governo do Sr. Assad, até que o grupo jihadista passou a extrair vantagens do caos para tomar territórios na Síria e no Iraque.
McClatchy, que em geral é melhor, exibe duas colunas de Hannah Allam em que analisa o envolvimento dos EUA na guerra contra a Síria. Infelizmente as colunas estão cheias de mentiras e narrativas falsas e reles propaganda do governo dos EUA, repetidas sem qualquer cuidado jornalístico de confirmação. “Governo Obama continua a prever que ‘os dias de Assad estão contados'” é repetição do que funcionários do governo dos EUA andam dizendo agora sobre suas primeiras ‘previsões’ quanto à guerra contra a Síria. Também inclui mais mentiras descaradas:
“Os norte-americanos estão decididos a manter os EUA fora do conflito armado na Síria, mas fingiram não ver quando aliados do Golfo Persa enviaram armas para facções linha-dura, com laços com a al-Qaeda.”
Há anos, o NYT e vários outros veículos noticiaram que a CIA era a agência que organizava as transferências de armas, milhares de toneladas, para os sauditas e outros estados do Golfo. Os EUA não ‘fingiram não ver’. Os EUA organizaram ativamente a guerra contra a Síria, desde o início.

Em “As ‘palavras mágicas’: como uma simples frase envolveu os EUA na crise síria”, Hannah Allam deixa que o ex-embaixador dos EUA à Síria ‘declare’ que o governo dos EUA jamais quis derrubar o presidente Assad… mas foi pressionado a fazê-lo:
Ford, embaixador dos EUA à época, disse que inicialmente se opusera a forçar a derrubada de Assad, por duas razões: era claro para ele que a Casa Branca só considerava usar sanções, como punição; e ação mais agressiva poria por terra os esforços da embaixada para iniciar um diálogo com o regime.

Ford disse que estava enfrentando as mesmas pressões que outros funcionários listaram – Republicanos influentes, alguns altos Democratas, a comunidade “sírio-norte-americana muito loquaz” e governos estrangeiros – mas não listou uma das forças frequentemente omitidas.

“Para ser muito franco, a imprensa, a mídia, nos arrastou. Não é que a mídia fosse imparcial nisso” – disse Ford. “Porque, quando os Republicanos começaram a dizer que [Assad] não tinha legitimidade, a questão passou a surgir em todas as conferências de imprensa, todos os dias: Você acha que ele tem legitimidade?” Queriam que nós disséssemos o quê? Que sim, ele tem?”
Mentirada. Ford foi dos primeiros a pressionar a favor da derrubada de Assad. Até organizou manifestação inicial e ofereceu midia training aos “manifestantes pacíficos” que foram os primeiros a matar policiais e soldados. Um dos “revolucionários” reagiu ao que Ford dizia:
The 47th
E quem, diabos, está falando?! Robert Ford anda dizendo que os sírios foram enganados por palavras mágicas? Ford “prometeu” a nós, sírios, total apoio em 2011.

The 47th
Em encontros privados em Damasco, Robert Ford prometeu aos seus amigos sírios da oposição, total apoio dos EUA e encorajou-os a prosseguir.

The 47th
Até foi a Hama, durante os maiores protestos da história moderna da Síria https://www.youtube.com/watch?v=AP1vGBJM4NU

The 47th
Não se trata de interpretar mal declarações públicas dos EUA. Diga a verdade. Como embaixador dos EUA, diga a verdade: você prometeu a Lua, aos sírios; mas só entregou merda.
Todas essas matérias jornalísticas, do Washington Post, ontem; mentiras do NYT, hoje; artigos e McClatchy, tudo isso é parte da estratégia de Obama, de fingir que sempre teria feito e estaria continuando a fazer “nada” ou “só pouca coisa”, quando, antes, como hoje, sempre moveu guerra total contra o governo sírio.

Joel Veldkamp expõe e analisa aquela estratégia (14/8/2015), nos seguintes termos:
Por que os EUA têm apenas 60 combatentes a mostrar, em troca dos seus $500 milhões do programa de um ano de treinamento? Porque assim se reforça a narrativa – alimentada por muitos programas publicamente debatidos e anunciados – de que os EUA não passariam de espectadores sem recursos e desamparados que pouco teriam a ver com a matança de sírios; e do presidente Obama, como estadista prudente, que não quer envolver lá, o próprio país. Enquanto o Senado reclama do chefe do Pentágono, e critica os parcos resultados, os EUA estão de fato terceirizando a luta para comparsas seus dentro da Síria, sem nenhum escrúpulo em aliar-se à al-Qaeda contra oponentes geopolíticos – a menos que os EUA estejam, como antes, cooperando direta ou indiretamente no apoio aos terroristas.

A partir do instante em que fique evidente que a narrativa do “espectador sem recursos” é falsa, e que os EUA sempre estiveram profundamente envolvidos no conflito armado desde do primeiro dia, torna-se ao mesmo tempo possível e necessário questionar aquele envolvimento.
O que me parece espantoso é que a mídia-empresa nos EUA é capaz de repetir as duas narrativas sobre a Síria. Dia sim, dia não, há matérias que repetem a falsa narrativa de que os EUA não estão nem jamais estiveram envolvidos na Síria; ao mesmo tempo, a mesma mídia-empresa, NYT, WaPo, McClatchy, publica outras matérias sobre o massivo esforço militar “secreto” com milhares de toneladas de armamentos despachados por navio e os bilhões de dólares que o governo Obama injeta na Síria, para fazer guerra contra o povo sírio.

A mídia-empresa sabe, pois, que a narrativa do “espectador sem recursos” é falsa. Mas a esperança de Joel Veldkamp, de que alguma coisa tornaria “possível e necessário questionar aquele envolvimento” tampouco se realiza. Exceto em blogs marginais como esse aqui, não se vê absolutamente nenhuma discussão pública, sobre coisa alguma.

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