Não se trata realmente de Ucrânia

Share Button
Sergey Karaganov: It’s not really about Ukraine

Um combatente leal à autoproclamada República Popular de Lugansk monta um posto de controle na região de Donbass, no leste da Ucrânia. © Sputnik / Sergey Averin

 
8/2/2022, Sergey Karaganov,[1] 14:05, RT[2] (dica de Pepe Escobar[3])
Tradução automática revista.

“Dito em termos leigos: os russos entendem. Diferentes de todos os demais povos do mundo, os russos conseguem relacionar-se com o que os EUA vivem hoje, e conseguimos ler extremamente bem os sinais. A elite dos EUA não apenas jamais teve experiência semelhante, como, mais grave, vive numa bolha, isolada, distante demais daquela realidade, para compreender. É a tragédia dos EUA que se desenrola diante de nossos olhos. Não só a crise sistêmica dos EUA, mas a evidência de que as elites norte-americanas são incultas, mal educadas e vivem hipnotizadas ao longo de décadas de autopropaganda, que, no fim, as elites aceitam como se fosse a realidade.”[4] [5]
_____________________________________

As tropas russas perto da fronteira da Ucrânia não entrarão no país. Entrar na Ucrânia, nesse caso, seria insensatez. Tomar território já devastado pela própria classe dominante antinacional e corrupta é uma das piores opções disponíveis para Moscou.

Em vez disso, é provável que as tropas ali estejam para evitar outro ataque às autoproclamadas repúblicas do Donbass. Se acontecesse novo ataque, o exército de Kiev seria destruído, e o que resta do estado ucraniano já falido provavelmente entraria em colapso. Essas tropas e outros meios técnico-militares, como bem dizem os generais russos, estão lá para aumentar a pressão sobre os marionetistas, não sobre os fantoches.

A Rússia poderia contar com sua grande capacidade militar reforçada, provavelmente acrescentando a essa capacidade o que os especialistas ocidentais chamam de “escalada de domínio” na Europa e em outras áreas de interesse vital.

Também se sabe que o Artigo Cinco da OTAN, que compromete todo o bloco com a defesa mútua, é absolutamente oco – leiam lá! apesar de uma avalanche de garantias. E os EUA sob nenhuma circunstância lutariam na Europa contra uma nação nuclear, arriscando receber resposta devastadora em casa.

Além disso, a Rússia está lutando com as costas coladas às costas da China, o que aumenta muito as capacidades militares-políticas de ambos.

Os EUA e a OTAN continuam a rejeitar as propostas plenamente justificáveis da Rússia – para pôr fim à expansão da OTAN, que é vista como absolutamente não palatável em Moscou e como risco ativo de gerar grande guerra; de possibilitar a implantação de armas ofensivas na parte oriental da Europa Central; e como a volta ao status quo ante 1997, quando a Lei Rússia-OTAN foi assinada. As contrapropostas dos EUA de conversas sobre construir confiança e controle de armas parecem agradáveis, mas são em grande parte inúteis. Já vimos tudo isso antes.

A confiança só pode começar a ser restaurada depois de atendidos os interesses básicos dos russos.

Os russos também somos cúmplices na criação da atual situação pré-guerra – por sermos fracos e confiar em nossos parceiros ocidentais. Essa situação já não é admissível. Não mais.

Também sabemos que, se a OTAN costumava ser bloco defensivo, degenerou e converteu-se em bloco agressivo, depois de bombardear o que restava da Iugoslávia; da agressão pela maioria de seus estados-membros ao Iraque; da agressão à Líbia, deixando para trás centenas de milhares de mortos e áreas inteiras devastadas.

A OTAN não é ameaça imediata. Conhecemos no Afeganistão as reais capacidades de combate da OTAN. Mas os russos vemos a OTAN Como um vírus perigoso que dissemina belicosidade e dela se alimenta. Além disso, é óbvio que quanto mais próxima a OTAN estiver de nossas fronteiras, mais perigosa pode vir a ser.

Ao longo da história, a Rússia tem esmagado todas as coalizões europeias que tentaram derrotá-la – as duas últimas lideradas por Napoleão e Hitler. Mas os russos não queremos outra guerra. Ainda que não seja travada em território russo.

O sistema de segurança na Europa, construído em grande parte pelo Ocidente após os anos 90, sem que qualquer tratado de paz tenha sido assinado após o fim da Guerra Fria anterior, é perigosamente insustentável.

Há alguns poucos modos de resolver o apertado problema ucraniano: a volta daquele país à neutralidade permanente, ou garantias legais, dadas por vários dos países-chave da OTAN, de que jamais aprovarão qualquer nova expansão maior do bloco.

Presumo que os diplomatas tenham algumas outras ideias na manga. Os russos não queremos humilhar Bruxelas, insistindo em repudiar aquela demanda errada, por expansão aberta da OTAN. Todos sabemos o fim da humilhação de Versalhes.
E há também, é claro, a via de implementação dos acordos de Minsk.

Mas a tarefa é mais ampla: trata-se de construir um sistema viável, sobre as ruínas do presente. E sem recorrer a armas, é claro. Provavelmente no quadro mais amplo da Eurásia Expandida. A Rússia precisa ter um flanco ocidental seguro e amigável, na competição do futuro.

A Europa sem a Rússia ou mesmo contra ela vem perdendo rapidamente o poder internacional. É consequência prevista por muitas pessoas nos anos 90, quando a Rússia ofereceu-se para se integrar com, e não nos sistemas do continente. Somos grandes demais e orgulhosos demais, para que algo ou alguém nos ‘absorva’.

Nosso movimento foi rejeitado na época, mas sempre há uma chance de que agora não seja novamente rejeitado.*******

[1] Presidente honorário do Conselho de Política Exterior e Defesa da Rússia, e supervisor acadêmico na Escola Superior de Economia e Negócios Externos (School of International Economics and Foreign Affairs Higher School of Economics, HSE), em Moscou.

[2] Publicado online pela primeira vez, no jornal Russia in Global Affairs.

[3] Pepe Escobar, pelo Twitter: “Artigo encomendado pelo Financial Times – depois rejeitado”.

[4] 21/3/2021, “O novo livro de Andrei Martyanov”, The Saker, in The Vineyard of the Saker, traduzido em Blog Bacurau, Homenagem ao Filme. A mesma ideia aparece também em artigo de Alistair Crooke, 15/2/2021, Strategic Culture Foundation (ing.):

“As elites ocidentais acabaram por crer na própria narrativa – esquecendo-se de que foi pensada como ilusão e artifício, criada para capturar a imaginação dentro de cada respectiva sociedade” (Blog Bacurau Homenagem ao Filme).

[5] Epígrafe acrescentada pelos tradutores. NTs.

[6] A expressão “autoproclamada”, aparece também no texto em inglês. É necessário confrontar a tradução ao inglês e o original em russo, porque essa expressão é absurda. Que República algum dia foi proclamada por alguém… para outro país que não fosse o seu? Quem, algum dia, proclamou República prô vizinho?! [NTs]

Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga

Share Button

Deixar um comentário

  

  

  

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.