Moallem: Esperamos receber em breve os S-300 e outras armas avançadas russas

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Entrevista do Exmo. Sr. Walid Al Moallem, Vice Primeiro Ministro e Ministro das Relações Exteriores e Expatriados da República Árabe da Síria, concedida ao jornal Al Akhbar, do Líbano, e feita pelo jornalista Nahed Hatr.


O cenário político na Síria e na região é nebuloso desde que os Estados Unidos criaram uma aliança para combater o ISIS (Estado Islâmico para o Iraque e a Síria). Nos desdobramentos, a posição síria foi de aceitar os fatos sobre os ataques aéreos americanos contra posições desta organização terrorista, ao tempo em que o Irã manteve seu anúncio sobre a rejeição desta aliança e Moscou respondeu com fortes declarações. O que acontece dentro da coalizão Rússia – Irã – Síria? É uma pergunta da qual se esquivaria um diplomata. Mas e se este diplomata for o Ministro Walid Al Moallem, que mede suas palavras com uma balança de precisão? Para minha surpresa, o Ministro falou sem meias palavras e disse no final da entrevista: “Publique o que achar que deve publicar. Vou deixar a seu cargo a avaliação da minha posição”. Daí, coube a mim a missão de escolher o que publicar de uma longa conversa com o chefe da diplomacia síria. Nada foi feito para ser publicado e sim para ser ‘compreendido’. Segue, então, o que considerei ‘publicável’. Foi aí que eu acabei por entender, de forma precisa, a política síria que age, em todas as situações, conforme seus próprios parâmetros e conforme sua tradição, ou seja, partindo do princípio de que a Síria ocupa um papel central na região e não abre mão disso, mas administra as batalhas com o máximo de flexibilidade e precaução, conforme as prioridades de cada fase. Na fase atual, a prioridade é derrotar o terrorismo na Síria.
Al Moallem, que saiu de uma cirurgia cardíaca, recuperou a vitalidade, a jovialidade, o sorriso, os cigarros e sua visão panorâmica, realista, sem sombras e nem borrões, onde não há espaço para a raiva, a emoção, a pressa ou a fraqueza. As prioridades são definidas com precisão e são elas que movem o tabuleiro internacional e regional com habilidade. Perde-se aqui para ganhar ali e assim caminha-se, com cuidado e confiança, em direção ao objetivo. O jogo perigoso, iniciado pelo Presidente Hafez Al Assad em 1970, segue seu rumo e o jogador sírio continua em sua posição…esta é a impressão que se tem depois de um diálogo aberto com o ministro que lutou na crise síria, em todas as fases, da difícil à muito difícil, com extrema calma e confiança. Ele nos remete à era soviética e lembra o ministro Sergei Lavrov.
Perguntei ao Ministro Moallem sobre sua relação com seu colega russo. A relação deles ultrapassa os campos político e profissional, chegando ao nível pessoal. São amigos em todo o sentido da palavra, já que se entendem, trocam confidências e críticas amigáveis.

Moallem revelou ao seu amigo, no último encontro entre os dois ministros, seu incômodo com o fato da diplomacia russa usar a expressão: “Nossos parceiros ocidentais”. Ele disse: “Não são parceiros da Rússia, são seus inimigos”. Isso mostra o pulso das relações históricas que ligam Damasco a Moscou. Este será o nosso primeiro foco.
As relações entre a Síria e a Rússia, como se mostrou nos primeiros anos da crise, são excelentes e privilegiadas. O que difere Damasco do restante dos amigos da Rússia é que ela usa estas relações para provocar o ocidente: Ela se inclina, emocionalmente e civilizacionalmente, para os russos e estes veem a Síria não como um aliado, mas como um membro de sua família. A Rússia tem uma dívida com a Síria por sua fé ortodoxa, um dos elementos fundamentais de sua identidade nacional. Atualmente, tem com a Síria uma dívida, assim como o Irã, pela presença regional e internacional conquistada e que não seria possível, a médio e longo prazo, se não fosse pela resistência síria.
A diplomacia síria pisa em solo firme, personificado na resistência da república, na força, união e confiança no exército, mas sem vaidades nem aventuras. Sua atual prioridade é administrar todos os assuntos de modo a garantir a resistência, proteger a Síria das agressões que superam a sua capacidade e garantir as armas para o exército.
A Síria deixou clara a sua posição para os seus dois aliados, a Rússia e o Irã, sobre a coalizão americana contra o ISIS: “Esta coalizão nos coloca diante de duas alternativas: Rejeita-la – pela falta de capacidade de traduzi-la militarmente com sucesso –, o que daria aos radicais da administração americana e aos aliados regionais de Washington o pretexto oportuno para declarar uma guerra americana – atlântica contra a Síria e “nós não daremos à eles este pretexto”. A segunda alternativa é a aceitação política e “isso vai contra a nossa estratégia política e de soberania. Assim, passamos para a terceira alternativa que é aceitar a realidade, sem nos aventurarmos num confronto perdido e sem um reconhecimento político”. “Não existe nenhum tipo de coordenação entre nós e os americanos e nenhuma negociação; eles nos informaram, diretamente, através do nosso representante nas Nações Unidas, Bashar Al Jaafari, e através de Bagdá e Moscou de que os ataques da coalizão visam, tão somente, alvos do ISIS e que ela não atacará o exército sírio. Será que poderíamos confiar nesta promessa? No momento, entendemos que o Presidente Barack Obama, por motivos internos, quer evitar uma guerra com a Síria e se contenta com uma intervenção aérea contra o ISIS. Nós nos beneficiamos com isso, mas não sabemos como Obama vai agir, sob crescentes pressões que terão uma influência maior caso os republicanos não consigam vencer nas eleições legislativas. Por isso, temos que estar preparados. Foi isso que nós deixamos bem claro, com sinceridade, para os russos e pedimos à eles que aproveitem este intervalo para nos fornecer armas avançadas”.
Nahed Hatr– S300?

Walid Al Moallem: Sim. E outras armas avançadas que possam possibilitar ao exército sírio enfrentar os desafios que estão por vir.
Hatr- Vocês conseguiram a S300?

Foto: Soubemos pelas nossas fontes que os S-300 ja estão a caminho da Síria.</p>
<p>Obrigado, Rússia!
Moallem– Não. Mas nós a obteremos, assim como obteremos outras armas avançadas, dentro de um prazo razoável. As indústrias de armas russas trabalham de acordo com uma burocracia lenta, apesar das armas estarem logo ali.

Hatr– Os russos concordaram com o pedido de empréstimo de 1 bilhão de dólares?
Moallem– Nós não pedimos este tipo de empréstimo. Não sei qual é a fonte desta notícia, mas não é verdade. Nós dispomos de facilidades de crédito suficientes, disponibilizadas pelos nossos parceiros iranianos. O que nós pedimos e que obteve compreensão e resposta por parte dos russos é mais importante do que isso. É uma série de acordos econômicos e comerciais que contribuirão com a economia síria e com o fortalecimento da resistência e da reconstrução.
Hatr– Apesar da divergência?
Moallem– Não existe divergência, mas uma avaliação diferente da posição sobre como enfrentar os desafios comuns. Nós é que administramos a guerra e nossas posições estão atreladas, com precisão, ao equilíbrio das forças em campo. Mas os russos e os iranianos podem adotar posições mais rígidas em relação à coalizão americana. E nós estamos felizes com estas posições e queremos que elas continuem, porque elas atrapalham o crescimento das tendências hostis do ocidente.
Hatr– O Senhor espera agressões por parte da Turquia? Haverá enfrentamentos?
Moallem– Nossa decisão estratégica é enfrentar militarmente qualquer agressão turca. Esperamos que, em breve, possamos contar com uma capacidade bélica avançada, que nos garanta derrotar os inimigos. Mas nós não vemos a possibilidade da Turquia lançar ações hostis contra a Síria num prazo à vista. As condições turcas para uma intervenção na Síria continuam sendo rejeitadas por Washington e, ao mesmo tempo, este tipo de intervenção não pode ocorrer às custas dos interesses da Arábia Saudita, o principal oponente da Turquia no campo oposto. Este campo vive contradições que nos beneficiam. Além disso, a situação interna na Turquia é extremamente frágil para que possa enfrentar uma eventual rebelião curda com a força necessária. A resistência dos nossos cidadãos curdos em Ein Al Arab fez fracassar as políticas de Erdoghan e, em compensação, deu a Obama o sentido para que promovesse o seu ataque aéreo. A posição turca em relação à ofensiva do ISIS em Ein Al Arab arregimentou os curdos de todas as partes contra o governo da Turquia. Os curdos estão se mobilizando, não apenas na Turquia – onde eles somam cerca de 15 milhões de pessoas – para se juntar a Abdullah Öcalan (líder dos curdos), mas também no Iraque. Um dia a mais de resistência em Ein Al Arab significa mais uma perda para Massud Barzani (Presidente do Curdistão iraquiano) e seu aliado Erdoghan (Presidente da Turquia).

Hatr- Mas e onde está Damasco na batalha de Ein Al Arab?
Moallem
– Ein Al Arab é a Síria e seus cidadãos são sírios. Nós fornecemos, estamos fornecendo e continuaremos a fornecer o abastecimento, as armas e a munição. Antes dos bombardeios americanos, eram as armas sírias que bombardeavam, diariamente, as posições do ISIS, no entorno de Ein Al Arab, mas tivemos que cessar porque não havia coordenação em campo com os americanos.
Hatr– Saleh Muslim, Líder do Partido Democrático Curdo Sírio, é um separatista?
Moallem– Não. Não é um separatista. O partido criou uma administração própria para administrar as regiões, onde havia uma maioria curda, que estavam sob a pressão da guerra. Ele teve o cuidado para que esta administração não fosse curda e que incluísse os clãs árabes da região. Não há como separar as áreas onde há uma presença curda – síria, com em Hasake, Manbaj e Ein Al Arab, porque elas estão ligadas geograficamente e porque elas incluem outros elementos. Ademais, nós não permitiremos e não reconhecemos qualquer separação na Síria, porque ela é um mosaico étnico, religioso e regional. A aceitação de qualquer separação significa o fim do país. Isso nunca acontecerá! A alternativa é o que este país sempre foi: Um Estado nacional, civil, diversificado em sua composição e em sua cultura como um todo, que pode ser desenvolvido democraticamente, no âmbito de sua localização, de seu papel regional e de suas alianças.
A aliança com o Irã.
Hatr– No contexto das alianças, a aliança síria – iraniana se destaca como profunda e ambígua ao mesmo tempo.
Moallem– O Imam Khamenei, em sua abordagem, não permite, dentro do Irã, nada que atinja esta aliança. Os eventuais obstáculos podem vir da parte dos liberais. A cada vez que isso ocorre, a situação é resolvida a favor da Síria por parte do Imam, da Assembleia Popular (o parlamento) e da Guarda Revolucionária. O Irã nos forneceu e continua fornecendo o que precisamos em termos de armas e, especialmente, as munições disponíveis de produção iraniana. Teerã nos dá, igualmente, apoio político, econômico e financeiro. Nós somos gratos por este apoio, confiamos em sua continuidade e na continuidade da compreensão da suprema liderança iraniana sobre a importância da aliança com a Síria. Às vezes, alguns políticos iranianos não avaliam esta aliança como deveriam e eu disse, com clareza, num debate que tive com Javad Zarif, Ministro das Relações Exteriores do Irã: “A resistência da Síria foi quem te

possibilitou a ter uma posição forte nas negociações com o ocidente sobre a questão nuclear”.
Hatr: Então isso significa que os religiosos conservadores são os aliados mais próximos da milenar Síria?
Moallem– Certamente, porque eles estão cientes dos interesses estratégicos iranianos e estão livres da inclinação ao ocidente.
Hatr– E existe alguma dificuldade com esta parte? Eles exerceram pressões sobre vocês para mudar a sua posição em relação ao Hamas?
Moallem– Não. Isso nunca aconteceu. Nossa posição em relação ao Hamas e à Irmandade Muçulmana é clara e os nossos aliados a conhecem bem. Isso não está em questão.
Arábia Saudita e Egito.
Hatr– A posição comum da Arábia Saudita e do Egito não abre o caminho para a reconciliação?
Moallem: Quanto ao Egito, nós apoiamos o Estado e as Forças Armadas, sem qualquer ambiguidade, no combate à violência, ao terrorismo e ao extremismo religioso. Em termos estratégicos, o Egito e nós, estamos na mesma trincheira, mas a posição das lideranças egípcias em relação à Síria, apesar de positivas, não alcançaram, ainda, o nível necessário para enfrentar o desafio comum. Esperamos que isso ocorra em breve e nós entendemos as pressões que o Cairo vem enfrentando, especialmente na área econômica, e que precisa do apoio saudita, mas queremos que o Egito recupere totalmente o seu papel árabe e isso começa pela Síria.
Hatr– E a Arábia Saudita? Existem perspectivas de reconciliação?
Moallem– Não. A posição saudita em relação à ‘Irmandade’ está no contexto de seu conflito com o Qatar e a Turquia, mas ela apoiou e continua apoiando os grupos terroristas armados, arregimentando os inimigos da Síria e é contra o Presidente Bashar Al Assad. Esta política aventureira se voltará, no final, contra a própria Arábia Saudita.
Hatr– A Arábia Saudita se posiciona do lado direito dos Estados Unidos contra a Síria por causa de seu ódio cego, devido à referência que o Presidente (Bashar) fez depois da guerra no Líbano em 2006, quando chamou seus líderes de ‘homens pela metade’?
Moallem: É possível. Mas eu tenho que lembra-lo que o Rei Abdalla visitou Damasco depois daquele famoso discurso e acompanhou o Presidente Assad até o Líbano. A Arábia Saudita nos hostiliza pelas nossas políticas independentes em relação ao Iraque e o Líbano. Ela acredita que estas políticas atrapalham a sua influência regional. Por outro

lado, o crescimento das relações sírias – iranianas provoca a ira de Riad, que impulsiona as suas ações contra a Síria.
Hatr– Então podemos concluir que se houver uma evolução em relação ao entendimento iraniano – ocidental – saudita e um entendimento sírio – saudita sobre o Iraque e o Líbano, então chegaremos a uma reconciliação?
Moallem– Não pouparemos nenhuma oportunidade de acabar com a guerra contra a Síria e garantir a integridade dos sírios. Mas estes que estão pagando o preço com o próprio sangue são os que decidirão, no final, a política da Síria. Esta é uma realidade política criada pela guerra. Não será mais possível conduzir a política síria sem o aval da opinião pública nacional. Os sírios tem uma posição em relação à Arábia Saudita por conta de seu apoio e seu financiamento à ofensiva contra o seu país e isso vale para o Qatar também.
Hatr– Houve uma tentativa de reconciliação por parte do Qatar?
Moallem– Sim. Mas nós a rejeitamos. O povo sírio não quer esta reconciliação. Se o Qatar quiser a reconciliação, então terá que tomar a iniciativa de parar de apoiar os terroristas e parar com a campanha contra a Síria.
Tradução: Jihan Arar

Fonte Sana

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