John Kerry faz visita relâmpago ao Líbano

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Por Moara Crivelente,

da Redação do Vermelho

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Impasse no Líbano é mais uma peça no jogo dos Estados Unidos

Publicada em 05 de Junho de 2014 ás 05:08:12

O impasse político no Líbano, após o fim do mandato presidencial de Michel Suleiman, foi classificado pelo secretário de Estado dos EUA John Kerry como “profundamente perturbador”, nesta quarta-feira (4). Como a história mostra que tudo o que “perturba” os Estados Unidos está na mira da sua política externa militarista e intervencionista, a atenção também se volta à realização de eleições na vizinha Síria, a contragosto da agenda norte-americana. Em fevereiro, o primeiro-ministro Tammam Salam anunciou novo gabinete com 24 membros, após 11 meses de impasse nas negociações para o estabelecimento de um governo sólido.AFP / Al-Akhbar

Kerry também abordou o envio de assistência financeira às agências da Organização das Nações Unidas para mitigar a “crise dos refugiados” sírios, enquanto o apoio dos EUA aos grupos paramilitares e extremistas no país continua sendo denunciado enquanto fator determinante no arrastar de um conflito de mais de três anos e 160 mil mortes.

As diretrizes da política externa estadunidense têm sido apresentadas de forma enfática, retrógrada e caricata pelos representantes do maior Exército e da maior presença militar espalhada pelo globo. Para a sua consecução, com o objetivo alegado de “liderar o mundo” no caminho pela “liberdade”, o custo de milhões de vidas, da dignidade dos povos e da soberania das nações são barganhas.

Neste sentido, o impasse na escolha de um novo presidente no Líbano – país cujo cenário político é estreitamente ligado ao da Síria pela história – é a mais nova retórica de “alarme” dos Estados Unidos. Mais uma vez, o país interfere no processo interno de um Estado árabe para “avisar” que uma solução à questão, de potenciais desestabilizadores, deve ser resolvida “com urgência”, embora não seja a primeira vez em que o cargo presidencial fica tecnicamente vago.

No mesmo discurso são deliberadamente incluídos temas como o “apoio” dos EUA ao Líbano, “inclusive às suas forças armadas”, o que insiste em soar como advertência, não como alívio. No escalar da crise na Síria, o apelo foi para que os libaneses não se envolvessem na questão, enquanto a resistência liderada pelo movimento e partido Hezbollá – que participa das eleições do Líbano desde o início da década de 1990 – continua sendo taxada de “terrorista” pelos EUA e seu aliado vizinho, Israel.

O Líbano mantém um sistema de divisão de poderes estabelecido pelo Pacto Nacional de 1943, para garantir a representação de diferentes grupos em um Estado multiconfessional (com cristãos maronitas e grego-ortodoxos, muçulmanos sunitas, xiitas e drusos), baseada em um censo de 1932, que revelou uma maioria cristã entre a população, o que resultou na garantia do cargo presidencial ao grupo. É neste ponto que analistas internacionais têm focado, nos últimos dias, para retratar o fim do mandato de Suleiman e o impasse na escolha de um novo presidente como a “perda da influência cristã” no país.
As divisões sectárias e as diferenças identitárias têm sido nstigadas historicamente pelas formulações imperialistas de um projeto de sustentação e avanço da hegemonia ocidental. O contexto atual não é diferente e a ênfase garantida a essas diferenças é novamente passível de uso enquanto recurso desestabilizador ou de condicionamento dos rumos futuros do Líbano. Daí derivam os repetidos apelos do Hezbollá e da esquerda libanesa pela unidade nacional enquanto resistência à sedição e à ingerência estrangeira.

Desde o ano passado, a atenção dos EUA ao país tem focado exatamente na formulação do processo político nacional, na questão síria e na participação do Hezbolá, que foi incluído em uma lista de “organizações terroristas” também pela União Europeia, quando o grupo assumia seu envolvimento no conflito sírio enquanto resistência e confronto à disseminação do terrorismo por toda a região.

A questão volta repetidamente, assim, ao papel do Hezbolá na política regional, vista enquanto um grande tabuleiro de jogo – a expressão foi até empregada por teóricos da política internacional idolatrados pelos “realistas” dos EUA – em que as peças são movidas de acordo com um único objetivo, o de sustentar ou combater a hegemonia estadunidense.

A afirmação da soberania contra as agressões e as ingerências menos diretas, a cooperação regional e a solidariedade entre os povos são taxadas, de forma reducionista e tendenciosa, de “idealismos”. Qualquer movimentação neste sentido deve ser explicada como um plote contra o “mundo livre”, ou seja, o “Ocidente”, e o alegado combate a estes plotes são investidos de legitimidade democrática e de liderança estadunidense no caminho da libertação quase messiânica.

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