Guerra dos sauditas contra tudo que possa ricochetear do Irã sobre eles (mísseis houthis, por exemplo)

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Armed fighters of the Shiite Huthi movement sit in a pick-up truck mounted with a machine-gun in southern Sanaa on April 21, 2015, in an area close to the missile depot on Fajj Attan hill that was hit the day before by an air strike by Saudi-led coalition warplanes. At least 38 civilians were killed in explosions that followed the air strike on the base on Fajj Attan hill that belongs to the missile brigade of the elite Republican Guard, which remains loyal to former president Ali Abdullah Saleh. AFP PHOTO / MOHAMMED HUWAIS
4/1/2016, Moon of Alabama
Ainda acredito que, do ponto de vista dos governantes sauditas, a execução de um bando de tipos da al-Qaeda e do demagogo xiita saudita Nimr Baqr al-Nimr foi movimento esperto para desviar a atenção do público interno para bem longe dos problemas que se acumulam à frente dos governantes sauditas e do recente salto de 40% no preço do gás. Mas a ‘operação’ teve custos que já começaram a subir.O maior perigo para a família al-Saud que governa ditatorialmente a Arábia Saudita é a validade comprovada de um sistema islamista que não é o deles, sistema alternativo, que facilita a comparação. A República Islâmica do Irã tem esse sistema alternativo, e a integração do Irã ao mundo depois do acordo nuclear mostra bem o alto valor estratégico que tem aquele sistema.Com o Irã logo ali, cidadãos e especialistas islâmicos eruditos na Arábia Saudita podem também ter a ideia de criar um sistema no qual todos os votos têm igual valor e as políticas decidem-se em urnas eleitorais. Isso, e extraem de lá a família governante ditatorial cleptocrata; e – o mais importante de tudo –, sem que ninguém seja obrigado a esquecer os valores Islâmicos essenciais.Por isso, não por alguma questão religiosa, os sauditas lutam contra o Irã, sem parar, desde a Revolução Iraniana em 1979. Por isso, fazem de tudo para minar a influência dos iranianos sempre que podem. O que os al-Sauds mais temem é o extermínio da família e respectivas sinecuras.Aqueles sauditas, aliados a Israel, tentaram de tudo para sabotar o acordo nuclear iraniano. Queriam o Irã bem preso na cela solitária do ‘isolamento’. Agora, infelizmente, já era. Tarde demais.Não li uma linha na mídia-empresa ‘ocidental’ hoje que falasse mal do Irã e/ou bem da Arábia Saudita.Os ventos da política internacional viraram. Agora é a Arábia Saudita quem está sob pressão. A reação impulsiva dos sauditas reinantes então é escalar e escalar e escalar ainda mais e combater contra o Irã onde o Irã apareça, como no Iraque, na Síria, no Líbano, ou até onde o Irã nem está, como no Iêmen.

Os sauditas dizem que o Irã apoia(ria) os houthis no Iêmen, mesmo que disso não haja nem fiapo de indício. Nunca se encontrou nenhum iraniano no Iêmen, nem armas iranianas. Os houthis contra os quais os sauditas estão em guerra no Iêmen não são xiitas como os iranianos; estão mais próximos do Islã Sunita, que dos xiitas dozistas iranianos. Não há qualquer prova de que os houthis receberam qualquer ajuda do Irã, e as histórias de que o Irã teria embarcado carregamentos de armas para o Iêmen já foram desmascaradas e já se sabe que eram falsas.

Agora, é provável que tudo isso mude.

Depois da execução de al-Nimr, alguns iranianos linha dura organizaram um grupo que invadiu e saqueou a embaixada saudita em Teerã. Foi ataque contra o que eles veem como políticas de ‘afrouxamento’ do presidente Rouhani do Irã. Foi estupidez do governo Rouhani não ter previsto esse movimento. A segurança da embaixada teria de ter sido reforçada. O governo Rouhani está fazendo de tudo, sem parar, para desculpar-se pelo incidente, mas até agora sem qualquer resultado positivo.

Os sauditas cortaram relações diplomáticas com o Irã e pressionaram Bahrain e Sudão a fazer o mesmo. Os governantes do Bahrain carecem da proteção dos sauditas, e o Sudão, do dinheiro deles. Os Emirados Árabes Unidos só rebaixaram a presença diplomática em Teerã, de embaixador para chargé d’affaires. Interessante é que os demais países do Golfo não acompanharam a decisão saudita.

Os sauditas cortaram todos os voos civis entre Irã e Arábia Saudita e proibiram seus cidadãos de visitar o Irã. Negócios entre os dois países serão interrompidos. Iranianos em peregrinação a Meca continuam bem-vindos.

Ainda não se consegue entender com clareza o que os sauditas esperam obter com tudo isso. O que o Irã poderia fazer que levasse os sauditas a desistir dessas medidas sem fazer papel ridículo? Não se sabe. Foi mais um movimento impulsivo, errático, que só fere o povo saudita e a reputação internacional da família reinante.

Aguardam-se mais movimentos idiotas. Os sauditas provavelmente escalarão a guerra por procuração contra o Irã na Síria e possivelmente também no Iraque, dando mais armas e mais dinheiro a jihadistas de todos os grupos e griffes. Um novo governo no Líbano, para o qual Irã e Arábia Saudita acabavam de se acertar, volta a sumir longe no horizonte.

Os sauditas também escalarão a luta contra os houthis e o apoio que eles deliram que o Irã dê ao Iêmen, embora, depois de nove meses de bombardeio ensandecido contra infraestrutura do Iêmen, já reduzido a pó, não há muito o que escalar. Todos os ataques em solo que os sauditas e seus vários agentes procuradores locais alugados tentaram foram rechaçados, e o impasse é total.

Aí, portanto, é onde o Irã pode escalar, em retaliação.

O Irã tem a tecnologia e sabe como transferir para os houthis algumas sérias capacidades em mísseis. São mísseis que dariam aos houthis capacidades para alcançar alvos sauditas. Todo o sul da Arábia Saudita ficaria ao alcance do fogo houthi. A Arábia Saudita teria de correr, ou para conseguir qualquer paz, ou para evacuar partes significativas do país.

A execução de al-Nimr e a distração do povo saudita, que passa a preocupar-se com o Irã, ajudarão os governantes sauditas a acalmar as perturbações internas. Sim, mas a escalada está custando preço político internacional muito caro. E pode acabar – se mísseis houthis começarem a descer dos céus sobre a Arábia Saudita – por agravar os problemas internos que, quando tudo começou, os sauditas tanto queriam evitar.

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