Festa Musical na cidade de Jerusalém: Mas, Palestinos não entram… 1

Share Button

Por Babel Hajjar

images2

O “Jornal Hoje”, da Rede Globo de Televisão, veiculou hoje, em 5 de abril,  uma reportagem do seu repórter  Rodrigo Alvarez  (que você pode ver aqui) sobre as negociações de paz… e um festival internacional de música que invadiu as ruas de Jerusalém esta semana.

Tal matéria um exemplo de como a mídia manipula, suavemente, dia após dia, a nossa opinião. Um olhar mais atento percebe a manipulação, e divulgar isso é muito importante, para os árabes e descendentes, mas também para todos os brasileiros que sofrem outras manipulações em seu dia a dia. Se é possível a reconstrução da instituição imprensa, no Brasil e no mundo, é imprescindível que observemos com mais atenção às “verdades” veiculadas. Denunciar enfoques como esses é essencial.

A matéria inicia falando de como os EUA estão ficando cansados de mediar o “Conflito” entre israelenses e palestinos. Nem israelenses, nem palestinos, na opinião do repórter, cedem às suas posições . Curioso é que cada vez menos se falam de quais são essas posições: Israel continua promovendo a invasão do território palestino, pela criação de assentamentos. Esses assentamentos são ilegais desde a guerra dos seis dias, em 1967! Após o fim dessa guerra, a ONU definiu que Israel deveria 1) retornar às fronteiras anteriores à guerra; e 2) conceder direito de retorno aos palestinos que possuíssem casas no atual território israelense (não sendo isso possível, a compensação pela casa tomada seria uma forma digna de se realizar tal devolução).

OLYMPUS DIGITAL CAMERA

Curioso também é o “cansaço” americano na mediação. Os EUA têm interesses na região, e desde sempre têm Israel como seu protegido. Israel é um Estado “judeu democrático”, o que equivale dizer que não é democrático, uma vez que 22 % de seus habitantes são árabes que permaneceram dentro das fronteiras atuais. E ninguém nunca viu os EUA ameaçarem Israel por não ser um país democrático de fato. Fora isso, Israel mantém Gaza e Cisjordânia exiladas do mundo, e seus cidadãos são submetidos a incursões militares, bombardeios, desapropriações e constrangimento da liberdade de ir e vir. Dito isso, continuemos: A matéria segue, dando a entender que a briga só ocorre no terreno político. Rodrigo Alvarez para de falar sobre a política, dizendo que “Israelenses tiveram uma semana prá lá de relaxada”, por conta de um festival de música “pacífico e bonito de se ver”… E mostra que Israel parou, naquele momento, com a sisudez das procissões religiosas de muçulmanos, judeus e cristãos, para viverem um momento mais leve, ocidental. Vários palcos montados na cidade velha, tocando músicas de bandas variadas, de Israel, do Irã, do Usbequistão… tinha até música árabe, tocada por judeus de origem árabe. A câmera mostra as pessoas soltas, dançando… corta para a vista da cidade velha à noite, com sua iluminação característica, acrescida da luz dos palcos….

Só faltaram os palestinos. Embora não houvessem barreiras físicas, para os palestinos que vivem dentro dos muros de Israel, a população ouvinte retratada era majoritariamente não-árabe. E, mesmo que alguns árabes da cidade velha se aventurassem, o show não era para eles, pois nunca é.  Isso para não falar das populações dos Territórios Ocupados. Faltou visualizar, nas faces desse povo alegre que dançava em uma Jerusalém ao mesmo tempo milenar e ocidentalizada, a consciência do conhecimento de que, a pouquíssimos quilômetros dali, há um povo apartado e discriminado desde 1948; um povo que fora oprimido, para que a dança leve e suave de outro fosse possível. A distância é tão pequena, que é possível que alguns palestinos até tenham ouvido algo dos shows. Me pergunto se a cena não seria semelhante a uma festa dada por um general da SS que morasse próximo a um campo de concentração. Obviamente, essa construção não é aceita pela enorme maioria dos judeus, pois estes foram ensinados a terem o seu massacre, o seu holocausto, como o maior da história, e base fundacional da ideia de “judeu” do pós-guerra. Não questiono a dor de ninguém. Mas apelo aqui para outra comparação, mais próxima, e palpável: A África do Sul do Apartheid. A festa não é para os negros palestinos dos bantustões; A festa é para os judeus afrikaners democráticos, a elite assoberbada de uma invenção política única, chamada Israel. Se existe alguma dignidade palestina ainda, ela só pode estar em não abrir mão da única coisa que possuem para negociar. E o “cansaço” dos EUA não é novo, a paz entre Israelenses e Palestinos já foi pauta de diversos presidentes americanos. É necessário que alguém desista, para que outro retome. Enquanto isso, os palestinos resistem. Como diz Hassan Nasralah, líder do Partido Libanês Hesbolah, “a Resistência não é Política, não pertence a este ou aquele partido. A Resistência é Cultural”.

Share Button

Um comentário sobre “Festa Musical na cidade de Jerusalém: Mas, Palestinos não entram…

  1. Responder Claude Fahd Hajjar abr 6,2014 13:22

    Parabéns Babel Hajjar pelo excelente texto!
    Este tipo de olhar passa por muitos de nós, sentimos, mas não expressamos a dor de sermos traídos, desrespeitados e subestimada a nossa inteligencia, seja pelos Estados ditos democráticos, seja pela imprensa que desinforma ao invés de informar.

Deixar um comentário para Claude Fahd Hajjar Cancelar comentário

  

  

  

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.