Executar Al-Nimr foi movimento esperto dos sauditas 1

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3/12/2015,
Moon of Alabama (e comentários n. 1, n. 4 e n. 7)
O governo saudita executou 47 prisioneiros de muito tempo, condenados à morte por prática de ações terroristas e insurgência.Do ponto de vista dos sauditas, foi movimento político esperto.Os sauditas enfrentam dificuldades na guerra que movem contra o Iêmen. Depois de nove meses de bombardeio infernal, não se vê nem sinal de qualquer ‘vitória’ saudita possível, nem de que, tão cedo, consigam reinstalar em Sanaa o governo cliente dos sauditas que lá havia, e já não há. Enquanto isso, as forças do Iêmen atacam (vídeo) sem parar, uma cidade saudita depois da outra.O projeto dos sauditas de fazer ‘mudança de regime’ com participação de jihadistas salafistas no Iraque e na Síria, também vai de mal a pior. Os baixos preços do petróleo já obrigaram o governo saudita a impor impostos à população. Impostos e mais impostos nunca geraram popularidade para governo algum.Para distrair a atenção dos cidadãos, os sauditas decidiram livrar-se de um grupo de prisioneiros e usar as execuções como meio para recuperar alguma ‘legitimidade’. Muitos dos 47 executados eram realmente tipos associados à al-Qaeda, que há dez anos mataram e explodiram prédios na Arábia Saudita e muito fizeram tentando derrubar o governo saudita. Com as recentes manifestações anti-sauditas feitas pelo ‘Estado Islâmico’ e al-Qaeda, cresceu o risco real de levantes na prisões, ou de que alguma ação com reféns venha a exigir a libertação de prisioneiros.

Só quatro dos executados eram xiitas. Um desses era o conhecido pregador e agitador xiita Nimr Baqr al-Nimr, da maioria xiita da província oriental de Qatif, na Arábia Saudita.

Al-Nimr havia convocado a juventude na Arábia Saudita e no Bahrain a levantar-se contra o governo. Pregou a derrubada não apenas dos governos tiranos de Arábia Saudita e Bahrain, mas também, do governo do presidente Assad na Síria. Não era submisso ao Irã, mas defendia a modalidade iraniana de governo. Al-Nimr se dizia contra a violência, mas várias das manifestações convocadas por ele terminaram com manifestantes e policiais mortos. Quase inacreditável que os sauditas o tivessem deixado livre para pregar por tanto tempo. Qualquer clérigo sunita na Arábia Saudita teria sido preso e morto por conversa muito menos revolucionária que a dele.

Alguns idiotas, como Keneth Roth do ‘Observatório de Direitos Humanos’, disse que al-Nimr desejava um estado democrático:
Kenneth Roth @KenRoth
O crime de Sheikh Nimr: liderar protestos pacíficos a favor da democracia saudita, igualdade para os xiitas
Perfeita imbecilidade. Em 2008, um diplomata dos EUA falou com al-Nimr. Telegrama que se pode ler em Wikileaks resume aquela conversa:
Al-Nimr descreve sua atitude e de al-Mudarrasi em relação à governança islamista como algo entre “wilayet al-faqih,” quando um país é liderado por um único líder religioso, e “shura al-fuqaha,” quando um conselho de líderes religiosos deve guiar o Estado. Al-Nimr, que dirigiu estudos religiosos por aproximadamente dez anos em Teerã, e por “uns poucos anos” na Síria, disse que toda e qualquer governança deve ser conduzida mediante consultas, mas a quantidade de poder oficial a ser entregue a uma determinada autoridade governante deve ser determinada a partir da qualidade relativa dos líderes religiosos e da situação política no momento.
Sistema liderado exclusivamente por clérigos ou líderes religiosos não é democracia. Dessa entrevista se pode extrair também que al-Nimr não tinha, na verdade, ideia clara sobre o que realmente queria. O que parecia estar resolvido é que queria “estar sempre com o povo, nunca com o governo”, independente de quem governasse ou do que estivesse certo ou errado.

A paciência dos sauditas esgotou-se quando, em junho de 2012, al-Nimr desrespeitou a morte do ex-ministro do Interior e príncipe coroado Nayef bin Abdul-Aziz Al Saud:
Disse que “o povo deve regozijar-se com a morte [de Nayef]” e que “será comido por vermes e sofrerá no túmulo os tormentos do Inferno”
Foi demais. Al-Nimr foi preso e condenado à morte.

Houve preocupação em torno da possibilidade de a execução de al-Nimr aumentar as tensões entre sunitas e xiitas. Vários governos e a ONU alertaram que a execução faria aumentar as disputas sectárias.

Pois então? Aí é que está!

A legitimidade do governo saudita depende de abundância de dinheiro e de aparecer como wabbabista sectário “guardião da fé”. Elevar a barra da guerra sectária, provocando reação violenta dos sauditas, só ajuda o governo dos sauditas a mobilizar a favor deles até mesmo os clérigos e a população sunita wahhabista. A execução de xiita conhecido também serviu para encobrir a execução dos militantes da al-Qaeda, que também contam com muitos simpatizantes na Arábia Saudita; matá-los sem matar al-Nimr teria levado a protestos, ou coisa pior, dos sunitas radicais. Mesmo com a ‘cobertura’ da execução de al-Nimr, entidades tipo al-Qaeda fora da Arábia Saudita já juraram vingança.

O governo iraniano e organizações xiitas no Iraque caíram rapidamente na armadilha e protestaram contra a execução de al-Nimr. Os iranianos permitiram que gangues organizadas atacassem a embaixada saudita em Teerã, que foi incendiada. Na província leste da Arábia Saudita, manifestantes xiitas atacaram violentamente forças policiais (vid).

Exata e precisamente o que os governantes sauditas queriam e tudo de que mais precisavam. Também pode ter sido o que alguns círculos conservadores iranianos esperavam ansiosamente.
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Comentário n. 1: Harry |3/1/2016 2:51:29 AM |
Meu detector de sarcasmo quebrou, ou alguém aí está abraçando o sectarismo saudita?

Verdade é que foi movimento super estúpido. No curto prazo, sim, é possível que sunitas e radicais passem a defender os sauditas. No longo prazo – o Irã pode fornecer quantidades significativas de armas a Houthis e xiitas oprimidos, os quais, adequadamente comandados e armados podem tomar os campos de petróleo, todos eles. Genocídio tampouco funcionará, porque os xiitas estão armados até os dentes; nem os sauditas terão material humano para combater múltiplas guerras. Diabos, eles não têm mercenários suficientes nem para combater os Houthis.

O Irã tem memória longa. Duvido muito que se ponham a inventar ‘primaveras árabes’ xiitas para escalar a guerra, agora; mas no longo prazo, sim, ferirão fundo os sauditas. A questão é – por quais meios.
Comentário n. 4: jfl | 3/1/2016 3:52:40 AM
Desculpe, mas não há nada de bom em executar a oposição política. Parece que todos querem ser Baracks Obamas (BOs), a incinerar festas de casamentos e funerais, agora já matando os filhos de pessoas que os mesmos BOs também mataram, ou reis sauditas degolando muçulmanos xiitas.

Faço votos que a oposição xiita pegue fogo e que derrube toda a dinastia.

Comentário n. 7: somebody | 3/1/2016, 6:45:27 AM
Tem cheiro de desespero saudita.

A parte mais interessante nem é tanto Nimr, que executaram como contrapeso, mas os “tipos associados à al-Qaeda”, que parece ser do pessoal que voltou do Afeganistão.

Com Síria, Iraque e Iêmen atacando pesadamente os ‘agentes’ de EUA-sauditas em vários fronts, grandes levas de combatentes muito experientes logo estarão retornando à Arábia Saudita para – digamos – procurar serviço.*****

 

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Um comentário sobre “Executar Al-Nimr foi movimento esperto dos sauditas

  1. Responder Resistência jan 4,2016 11:14

    Pelo visto, logo os colaboracionistas sauditas serão derrubados e enfim, com a queda de um aliado yankee, o Estado Sionista (não o Israelita) ficará sozinho…

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