Cristãos do Iraque: conversão, exílio ou morte 2

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Depois de mais de 2 mil anos de presença em Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, os cristãos receberam um ultimato e foram obrigados a abandonar a região nestes últimos dias, deixando todos os seus bens para trás. O Estado Islâmico lhes deu as opções: morrer; se converter ao islamismo; pagar o imposto dos infiéis (a jizya) e viver sob a lei da sharia; ou deixar a cidade imediatamente.

A agência de notícias local informou que os integrantes do ISIS estupraram a esposa e a filha de um cristão na frente dele, pois o homem era pobre e não podia pagar a jizya, no valor de 450 dólares mensais. Tal soma é impossível de ser paga pela grande maioria das famílias da região. Um professor da Universidade de Mossul, o muçulmano Mahmoud Al ‘Asali, saiu em defesa dos cristãos, dizendo discordar da forma como estavam sendo maltratados, e por isso foi morto no dia 20.

Dom Saad Syroub, bispo auxiliar caldeu de Bagdá, contou que os extremistas escreveram na fachada da casa dos cristãos a frase “Imóvel de propriedade do ISIS” (sigla em inglês de “Estado Islâmico do Iraque e do Levante”). Junto com o escrito, circulada em vermelho, a letra árabe “nun” (que aparece em vermelho na foto abaixo), equivalente ao nosso “n”, que é a inicial da palavra “nazarenos”. Agora, essas casas já foram todas saqueadas.

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Fachada da casa dos cristãos com a frase “Imóvel de propriedade do ISIS”. Junto com o escrito, circulada em vermelho, a letra árabe “nun”, equivalente ao nosso “n”, que é a inicial da palavra “nazarenos”

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Antes desse ultimato, milhares de famílias cristãs e xiitas já haviam deixado Mossul, e ao menos conseguiram levar algumas malas e automóveis. Mas nos últimos dias, os refugiados cruzaram a fronteira só com a roupa do corpo: nos postos de controle do ISIS, os jihadistas roubaram seu dinheiro, seus carros, jóias, tudo! Muitas mulheres tiveram seus crucifixos arrancados do pescoço, e alguns refugiados foram abatidos a tiros durante a fuga (veja o vídeo).

Grande parte dos refugiadas foi para o (recém criado) Curdistão; muitos também fugiram para aldeias próximas de Nínive. Nem todas as famílias optam por fugir; alguns aceitaram fazer a profissão de fé islâmica para preservar seus bens e suas vidas. (…)

Para aumentar a desgraça, o edifício do episcopado da Igreja Católica Siría em Mossul foi completamente incendiado pelos jihadistas no dia 19 (foto abaixo). A dez minutos da cidade de Qaraqosh, os extremistas tomaram o mosteiro de Mar Behnam e expulsaram de lá os monges católicos sírios, que foram impedidos até mesmo de levar qualquer relíquia. O mosteiro, construído no século IV, é um dos lugares de culto mais antigos e venerados pelo cristianismo. Também foram ocupados o Mosteiro de São Jorge, a Casa das Irmãs do Sagrado Coração e o Mosteiro dos dominicanos.

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Edifício do episcopado da Igreja Católica Siría em Mossul.

Os militantes não pouparam nem mesmo o túmulo do profeta Jonas, que foi destruído a golpes de marreta (veja o vídeo). Jonas é reverenciado por cristãos e muçulmanos, mas o ISIS afirma que a veneração de túmulos contraria os ensinamentos do Islã.

O sofrimento se espalha nas aldeias da Planície de Nínive: o abastecimento de água e de energia elétrica foi suspenso para as famílias cristãs, por ordem do Estado Islâmico. Tal situação se torna crítica em função das altas temperaturas no local. A fundação AIS – Ajuda à Igreja que Sofre – já disponibilizou uma ajuda de emergência de 100 mil euros para acudir os refugiados. Dom Emil Shimoun Nona, arcebispo da agora extinta Arquidiocese de Mossul, está agora em Tall Kayf, povoado que fica três quilômetros ao norte de Mossul. Lá, a Igreja acolheu a todos que fugiram por causa do avanço dos radicais, não só os cristãos, mas também os muçulmanos xiitas.

No último domingo, o Papa Francisco telefonou para o patriarca da Igreja Católica Síria, Ignace Joseph III Younan. O pontífice disse que está muito preocupado com o drama dos cristãos expulsos de Mossul, e que está orando pela paz no Oriente. As lideranças das igrejas do Oriente estão se articulando junto com o Vaticano para realizar um esforço diplomático junto às instâncias islâmicas moderadas. Também pretendem pressionar a comunidade internacional a quebrar o vergonhoso silêncio e passividade diante desses fatos.

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Uma das refugiadas iraquianas que conseguiram chegar ao Curdistão.

 


Patriarca Béchara Raï: “O que dizem os muçulmanos moderados” sobre o que está acontecendo com os cristãos de Mosul?

Beirute (RV) – “Que dizem os muçulmanos moderados?” Foi o que perguntou o patriarca maronita Cardeal Béchara Boutros Raï a propósito do ultimato lançado semana passada pelo Estado islâmico do Iraque e do Levante (Isil) aos cristãos de Mosul, recordado pelo Papa Francisco no Angelus deste domingo.

O ultimato traumatizou o mundo árabe, em particular, os católicos e os ortodoxos orientais, mas, observou ainda o patriarca em sua homilia, “não se ouvem vozes de denúncia” a esse comportamento brutal, reporta AsiaNews.

Foi dada aos cristãos que ficaram em Mosul após a conquista da cidade por parte dos combatentes do Isil, cerca de uma centena de famílias cristãs, a possibilidade de escolher entre três opções: primeira, converter-se ao Islã e tornar-se súdito do Califado; a segunda, pagar a taxa dos infiéis, a jizya; por fim, a terceira opção, ir embora, sem levar nada consigo além da roupa no corpo ou sofrer “a espada”. Os muçulmanos xiitas e as outras minorias receberam o mesmo ultimato.

As medidas tomadas em Mosul “contradizem 1.400 anos de história e da vida do mundo muçulmano, “afirmou o patriarca dos caldeus Louis Raphaël I Sako numa mensagem de 17 de julho “endereçada aos muçulmanos do Iraque e do mundo” e a todos os homens de boa vontade e aos responsáveis que têm influência sobre os eventos.

Também o patriarca sírio-ortodoxo Ignazio Ephrem II reagiu com indignação, denunciando, ademais, o incêndio de igrejas e sua completa destruição e convidou a “interromper o financiamento destes pequenos grupos extremistas que semeiam o terror e buscam dividir o povo iraquiano, rico de uma longa história de coexistência e de trabalho comum”.

Por sua vez, o patriarca dos sírio-católicos, Ignazio III Younam, encontrou no Vaticano o secretário das Relações com os Estados, Dom Dominique Mamberti, ao qual relatou as desgraças que estão se abatendo sobre os cristãos do Iraque e também a destruição parcial da igreja dos sírio-católicos de Aleppo, atingida por uma enorme bomba lançada por um avião militar sírio.

O patriarca propôs a Dom Mamberti dedicar à situação uma reunião dos núncios apostólicos dos países envolvidos e propôs também unir o patriarca de Moscou aos esforços diplomáticos. E a se pensar também em mobilizar os regimes e as instâncias islâmicas moderadas.

O Patriarca Younam fez uma escala em Roma antes de partir para os EUA, onde visitará a diocese sírio-católica de Nossa Senhora do Socorro, que compreende EUA e Canadá. (RL)

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou neste domingo que a perseguição dos cristão na cidade iraquiana de Mossul pelos jihadistas pode ser considerado um crime contra a humanidade.

Em um comunicado, o porta-voz da secretaria-geral disse que Ban “condenou da maneira mais firme possível a perseguição sistemática das minorias no Iraque por parte do Estado Islâmico e dos grupos armados vinculados a ele, especialmente as ameaças contra os cristãos em Mossul.”

O secretário-geral “reafirma que os ataques sistemáticos contra civis em razão de sua origem étnica ou de suas crenças religiosas podem constituir um crime contra a humanidade.

 

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2 thoughts on “Cristãos do Iraque: conversão, exílio ou morte

  1. Responder leonardo poa jul 26,2014 20:23

    somos a maior religião do mundo e nao temos grupos paramilitares

  2. Responder joao pedro ago 15,2014 4:08

    Jesus esta voltando …

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