Conceitos a serem revistos 1

Share Button

Por Fuad Achkar.

Em entrevista ao canal árabe Al-Mayadeen, o vice secretário geral do grupo Hamas Moussa Abu-Almarzouk, disse que não era intenção de Khaled Mashaal segurar a bandeira da “revolução síria” em evento comemorativo em Gaza e que o Hamas ficou distante dos acontecimentos na Síria e no Egito.

A Síria sempre foi a terra de todos os árabes. Recebeu e abrigou desde 1948 mais de 500 mil refugiados palestinos. Em 2003 com a destruição do Iraque mais de dois milhões de iraquianos se refugiaram no País sem qualquer ajuda externa de quem provocou esse exílio ou da própria ONU, pois essa só poderia ser concedida se fosse dado aos iraquianos o status de refugiados, tendo o governo sírio informado à ONU que nenhum árabe é refugiado na Síria.

Moussa

 Moussa Abou Al-Marzouk, vice secretário geral do Hamas, em entrevista realizada pelo canal de TV Almayadeen diretamente do Cairo onde reside. (Hoje 14/10/2013)

Quando o Líbano foi atacado em 2006, milhares de libaneses se refugiaram na Síria onde ficaram até encerrarem os bombardeios. O líder do Hamas, Khaled Mashaal morava em Amã quando foi envenenado pelo Serviço de Inteligência de Israel. Os agentes foram presos e com o incidente o Clinton forçou o Natanyahu a entregarem o antídoto evitando problemas políticos para seus aliados na Jordânia, inclusive rompimento de relacionamentos. Após esse fato, ele esteve exilado na Síria onde teve a oportunidade de gerenciar o escritório do Movimento, trabalhar sob segurança e recebendo aliados com plena liberdade evitando o ostracismo.

No início das hostilidades contra a Síria, acreditando que o Presidente seria deposto em alguns dias, ou semanas, ele deixou Damasco e foi para o Qatar criticando a mesma Síria que o abrigou e que sofria forte pressão internacional e da mídia em geral por ter o acolhido. Se aliou ao maior financiador dos terroristas que atacavam justamente aquele país que o abrigou quando não tinha para onde ir e o Mossad estava atrás dele. Essa aliança permitiu seu retorno a Gaza com a interferência do deposto Emir do Qatar que “negociou” com o governo israelense sabe-se lá que condições para seu retorno. O certo é que antes de seu retorno o Exército de Israel atacou Gaza e assassinou o líder que lá estava e que negociava o armistício com os sionistas.

Quando aqueles que o ajudaram (a Síria, seu Povo e seu Governo)  precisaram de sua colaboração, ele virou as costas e sorriu para os petrodólares do Qatar para onde foi. O mesmo Catar que financiou o terrorismo contra o povo sírio destruindo a infraestrutura do país e praticando o genocídio da população síria. Com o próximo fim da guerra, muitos procuram se aproximar novamente da Síria, como esta semana já fez o novo Emir do Qatar, segundo fontes da imprensa libanesa. O Governo da Síria não se manifestou a respeito.

A Síria deverá repensar, e muito, sua política interna deixando, entre outras coisas, de ser a “casa de todos os árabes” e ponderar quem esteve de seu lado nestas difíceis horas que vivemos, o que afasta não só o Khaled Mashaal como considerável parte das lideranças palestinas. Nossos amigos nos apoiaram e deverão ficar a nosso lado na reconstrução do país.

A eles e apenas a eles, a Síria deverá continuar Coração de Mãe.

Share Button

Um comentário sobre “Conceitos a serem revistos

  1. Responder Nathaniel Braia out 15,2013 22:55

    Caro Fuad
    Os seus comentários são muito esclarecedores e convidam à reflexão. Nós, brasileiros que, por diversos motivos acompanhamos e apoiamos a luta dos povos árabes pelo progresso e pela sua libertação do Império que atenta contra a soberania dos povos (inclusive o nosso)temos que nos apoiar nos fatos e elevar a nossa consciência acerca dos caminhos justos e das alianças que podem nos levar ao avanço assim como dos inimigos e obstáculos aos nossos interesses comuns.
    Um dos fatores mais importantes (se não o mais importante) para o progresso dos povos do Oriente Médio é a libertação da Palestina. Você tem razão ao reclamar que muitas das forças palestinas se omitiram agora, quando a Síria foi agredida. Arafat (se fosse vivo agora) estaria do lado dos sírios, assim como soube assumir todos os riscos para ficar ao lado de Sadam Hussein na pior hora (quando os mísseis Tomahawk já apontavam para Bagdá). Até onde pude acompanhar a Frente Popular de Libertação da Palestina e Frente Democrática de Libertação da Palestina apoiaram o governo sírio contra a agressão norte-americana. Uma tentativa de manifestação da FPLP em Gaza, em apoio ao governo sírio foi reprimida pelo Hamas.
    Com certeza estas são forças (que integram a OLP) com as quais a Síria deve aprofundar o relacionamento. Deve, ao meu modesto entender, assim que a poeira dos combates baixar, realizar profundas discussões com a Autoridade Nacional Palestina para estabelecer relações em novas bases. Afinal de contas, por mais diferenças que infelizmente surgiram entre sírios e palestinos, existe um inimigo comum ao qual não se pode deixar que tome proveito dessas rixas (Israel – base avançada dos EUA no Oriente Médio). Afinal, a vitória da Síria sobre o maior inimigo da Humanidade colocará o seu governo em um patamar de influência política que não pode ser negligenciado se quisermos que a vitória da Síria seja um passo decisivo para o avanço de toda a região. Isso só tornará a Síria mais Síria ainda. Uma única observação final: um regime forte, progressista e um líder bem informado e independente é tudo o que Império não quer na região. Portanto, o governo sírio vai precisar de alianças, sim, pois as tentativas de golpeá-lo não param por aqui.
    Abraço do Braia

Deixar um comentário

  

  

  

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.