A Síria entre o real e o virtual

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  • Por Dr. Sami Salameh*

A Teoria do Realismo

A Teoria do Realismo é uma das teorias políticas que analisam a política internacional ou  a política externa dos Estados. Podemos considerar o realismo político – ou o realismo na política internacional, como uma reação à teoria do idealismo que surgiu, de forma significativa, como uma das tendências intelectuais para a análise da política internacional após a Primeira Guerra Mundial (no período da criação da Liga das Nações ou Sociedade das Nações),e no desenvolvimento de novos conceitos promovidos pelos idealistas como critérios para a concordância das políticas externas dos países com a moral e o comportamento exemplar que deveriam adotar, munidos com instrumentos para resolver as disputas e reduzir os conflitos, como a mediação, a negociação, a arbitragem e a corte internacional.

Apesar das origens intelectuais do realismo político serem antigas, a escola realista nas relações internacionais surgiu numa época relativamente recente, no período após a Segunda Guerra Mundial. Nesta fase houve mudança de interesse no estudo das relações internacionais, do quadro legal para o quadro realista, inclusive em relação às dimensões inter-relacionadas e o que refletiam de conflito de interesses, levando em consideração o equilíbrio das forças. A Teoria Realista adotou conceitos especiais para compreender as complexidades da política internacional e da interpretação do comportamento externo dos estados; destacamos aqui os conceitos mais importantes como: Estado, força, interesse, racionalismo, anarquismo internacional, e o princípio do equilíbrio de forças. Atualmente estes conceitos foram adotados como chaves por todas as abordagens realistas.

O Caso da Síria e sua Abordagem Realista

Só é possível explicar o que a Síria vem sofrendo de perseguição e luta política, de conflito regional e internacional, com ela e em torno dela, através da análise  dos dados estratégicos que destacam a importância  da Síria  e do seu  papel na região, assim como do  seu peso  na balança política.

Destacamos os mais importantes destes dados:

A localização geopolítica da Síria por ser a primeira linha de defesa para o conflito árabe-israelense, além de ser o corredor e a porta da Ásia Oriental para o Mediterrâneo e Europa e o portão do Golfo para o norte e para o Mediterrâneo. Esta localização geográfica privilegiada, foi valorizada mais ainda pela genialidade e criatividade do ser humano sírio, que aumentou sua importância. Foi potencializada ainda pelo contexto político e pela síndrome da localização e o seu posicionamento e na  dimensão da sua estratégia que está na sombra de um mundo que testemunha uma acentuada polarização, e que o conduz para a formação de novos mapas políticos ultrapassando o caso do unilateralismo polar nas relações internacionais que tornaram a Síria o palco  de suas operações e o ponto de partida da sua formação.

Igreja de Ananias- Damasco

A importância estratégica da Síria não pára nas fronteiras dos dados da geopolítica, mas, estende-se ao que é muito mais importante, pois é considerada como lar espiritual de centenas de milhões de fiéis seguidores de religiões monoteístas. Síria não é apenas um país laico secular, mas é um Estado globalizado com as características de seu povo longe de qualquer filiação ideológica ou tendência política, nela desaparecem as fronteiras geográficas, culturais e econômicas entre os seres humanos e se afastam todas as formas de afiliações e identidades e partidarismo e mapas estreito s deixando todas as camadas políticas da sociedade interagindo num grande e amplo espaço nacional.

O modelo sírio de co-existência e convivência entre os seguidores de todas as religiões, raças, culturas e etnias, e coesos pela ligação nacional, é uma mensagem poderosa e um desafio para aqueles que procuram quebrar a região demograficamente após tentar dividi-la geograficamente, ao afinar as cordas de seitas, denominações, raças e grupos étnicos e lidar com os grupos políticos como objetos ou seres biológicos que podem ser mobilizados, e induzir neles o estouro do instinto de rebanho. Daí, podemos considerar, que tentar atingir este modelo civilizado e humano, é uma violação de todos os valores civilizacionais, humanitários, culturais e morais que a humanidade se sacrificou e pagou caro por eles, ao longo de sua extensa história.

Além do modelo civilizacional sírio de co-existência e convivência, a Síria fez o seu próprio modelo nacional, sem afirmar que ele é o melhor, o que queremos dizer exatamente é que ele carrega características próprias, no sentido de que é um produto totalmente nacional seja na forma como gere o  seu sistema político ou seja em eleger as suas outras instituições, pois o sistema político sírio e os órgãos soberanos sírios são produtos sírios com excelência, e não foram criados por nenhum papel ou qualquer fator ou induzidos por forças externas; eliminando assim a influência que atravessa as fronteiras para mudar a autonomia de suas escolhas, direcionamentos e a sua bússola e função política, por isto a política da Síria foi marcada nas últimas seis décadas pela independência e pelos termos de referência nacional, apesar da intensidade da polarização internacional, na maioria dos países da região, especialmente na era da guerra fria, considerando, que a região está localizada no circuito da disputa e conflito de projetos internacionais.     

Talvez o que intensificou o ritmo para atingir a Síria, além do que já foi mencionado, é o seu compromisso, tanto da sua liderança como do seu povo, de adotar a linha arabista de resistência, considerando a questão palestina como causa central, posicionada nas articulações da consciência coletiva dos sírios em geral, além de procurar e chamar e defender a União Árabe. Por essa razão e outras, tornaram-se muitos, os amigos e aliados da Síria,assim como, em contra partida angariou muitos inimigos, seja de potências regionais e internacionais, gananciosos, ambiciosos e invejosos, essas forças estavam arquitetando e aguardando o momento oportuno para atacar este país, esvaziando todos os sentidos dos feudos históricos e derramando o fogo rancoroso sobre seus filhos, já que conseguiram abrir uma brecha no seu muro nacional.

Durante quase quatro anos de violência gradativa, que atingiu o seu pico quando as gangues de mercenários armados, apoiados pelo terrorismo internacional, começaram a utilizar máquinas e métodos de destruição. podem se perguntar sobre as causas de todo este apoio dessas forças para esses bandos que contêm entre suas fileiras cerca de metade de mercenários árabes e estrangeiros? Tornou-se claro para todos e para qualquer um que tem a menor percepção de que o que eles querem para a Síria é:

1. Destruir o exército árabe sírio como uma força defensiva, como eles destruíram o exército iraquiano, para manter a Síria sem um exército que protege a segurança nacional e entidade estratégica.

2. A destruição da civilização e da cultura síria que tem mais de dez mil anos, e roubar seus monumentos que comprovam a profundidade da sua cultura e sua civilização, por sentirem o complexo de inferioridade civilizacional e cultural, porque países como Qatar e Arábia Saudita não têm história e nenhuma cultura ou civilização que marcaram a história. Esta civilização e cultura síria, comprovada pela composição demográfica e étnica dos sírios e convivência fraterna entre dezenas de diferentes etnias e seitas.

Ícones da cidade devastada de Maalula- berço do cristianismo

3. Anular a história síria representada por todas as vitórias históricas contra todas as forças da opressão e do colonialismo através dos tempos, de romanos, persas, mongóis, tártaros, otomanos, neo-colonialismo, e Israel com sua liderança sionista racista, e apagar das memórias as imagens e os efeitos dos grandes homens na história síria.

4. A destruição do Estado sírio aniquilando sua infra-estrutura e bases econômicas e seus projetos e setores de serviços e de produtividade.

5. Retroceder com a sociedade síria para a época de pré estado, a sociedade de cultos, seitas, tribos, clãs, famílias desestruturadas e a comunidade de milícias que sabe apenas matar e destruir.

6. Estabelecer uma nova cultura na sociedade síria que é a cultura de se contentar com a formação de Mini-Estados sectários e doutrinais, como aconteceu durante o mandato francês, e em virtude da falta de segurança e estabilidade e da criação de fator objetivo e esquecer a cultura de associação nacional em virtude de reações no que feito pela Liga Árabe, e se afastar da cultura de apego do povo sírio à causa palestina, em resposta aos atos da organização Hamas e operações terroristas realizadas por alguns dos palestinos em vários campos de refugiados palestinos.

7. Para transformar a Síria em grupos de Emirados Religiosos, da mesma forma que se encontrava Najed e Hijaz (hoje a Arábia Saudita) nos séculos XVII e XVIII para garantir a aplicação e o sucesso do projeto sionista.

Abordagem Virtualista

As potências ocidentais e seus aliados na região, que viveram por quase quatro anos na guerra contra a Síria alheios da realidade e exagerando os fatos da agressão e criando fantasias e sonhos, entenderam, há período considerável, que as mudanças, a favor da Síria, começaram a se tornar realidade, levando-os a não poupar esforço para acomodar estes novos desdobramentos, cujo resultado foi que esgotaram os seus meios, instrumentos e todas as apostas contra o aumento da tendência de vitórias sírias em vários níveis.

Durante os últimos meses, grandes jornais e revistas estrangeiras, colocaram nas suas primeiras páginas as imagens de grupos armados na Síria mostrando grupos terroristas como ISIS e Frente  AlNusra e outros cometendo crimes brutais, e entre estas imagens reportagens e testemunhos de jornalistas ocidentais no mesmo sentido. As fotos publicadas pela revista “Time”, dos EUA, e pela “Daily Mail”, da Grã Bretanha, ou pela “Paris Match”, da França, de militantes que abatiam, matavam e linchavam, não são algo novo ou isolado na história destas organizações. E nem os testemunhos de jornalistas sobre massacres que eles viram com seus próprios olhos são estranhos aos nossos ouvidos. O que foi publicado e foi dito na mídia ocidental recentemente sobre o que não está relacionado ou ligado ao conceito de revolução, através de massacres cometidos e execuções em massa e limpeza étnica de vilas e cidades, são cenas repetidas todos os dias na Síria.

Apesar da importância da divulgação dessas imagens para a opinião pública ocidental para saber a verdade sobre o que está acontecendo na Síria, mas isso não nos impede de se perguntar sobre as razões para esta corrida da mídia ocidental em publicar estas fotos nesta fase particular. O que mais nos deixa perplexos o desempenho da mídia ocidental sobre a crise na Síria desde seu início. Como a mídia ocidental lidou com o caso da Síria?

Christophe Reveillard, pesquisador e professor na Sorbonne, em Paris, em um estudo sobre “a crise síria e a realidade virtual dos meios de comunicação”, nos fala sobre as três fases que os meios de comunicação ocidentais trataram a crise síria.

A primeira fase durante a qual tentaram projetar o modelo líbio sobre os acontecimentos na Síria e fazer parecer o caso da Síria como uma guerra civil. Mas, à luz das realidades locais e a resistência da Síria e a maioria do povo sírio contra o vórtice dessa guerra obrigou os jornalistas ocidentais a re-organizar suas páginas.

Assim era contar na segunda fase com as fontes e os meios de comunicação de pouca credibilidade, até que alguns deles contribuiu para a desestabilização do país. Entre as fontes enumeradas pelo pesquisador francês e adotadas pelos jornalistas do Ocidente, o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (ODIHR) que pertence a oposição, e está sediado em Londres, outro é o Conselho Nacional Sírio, Exército Livre da Síria, além dos meios de comunicação e mídia do Catar, da Arábia Saudita e da Turquia, claramente contrários ao governo na Síria, e entre os canais citados pelo Pesquisador Francês estão Al Jazeera e Al Arabiya.

Na terceira fase a questão síria começou a desaparecer relativamente das primeiras páginas e começou a vazar, de forma tímida, algumas informações sobre os estágios iniciais da crise, como o real papel das forças externas, e desinformação, sequestros e o papel dos elementos jihadistas mais extremistas.

Para estes estágios mencionados por Reveillard pode ser adicionado uma quarta etapa, chamada por alguns “Despertamento” da mídia ocidental, que muitos viram uma mudança no desempenho desta media .. É muito claro que o que está acontecendo hoje é uma transformação, e a questão que se coloca aqui: É uma mudança inocente ou isolada da mudança política geral no cenário e a nova direção americana e ocidental em geral, voltando-se para uma solução política na Síria?

Aqueles que acompanham os meios de comunicação ocidentais acreditam que falar sobre um “Despertamento” é uma coisa exagerada e que o que aconteceu pode ser abordado a partir de dois ângulos: primeiro a natureza do papel desempenhado pela mídia no Ocidente, nunca foi uma instituição autônoma, mas é uma das colunas da elite governante e uma extensão dela, bem como seu impacto direto sobre a fabricação e desenvolvimento da decisão. O segundo angulo é a opinião pública ocidental que exerceu um fator de pressão de tal forma que não podia ser evitada.

Alguns especialistas nos assuntos americanos e que acompanham a mídia ocidental viram de que a flexibilização do discurso da mídia coincidiu com o declínio nas chances de agressão, dizendo que, se tivesse ocorrido um ataque militar à Síria, certamente os meios de comunicação estariam envolvidos na guerra pois ela é “uma mídia que vive nas custas de guerras e crises no aspecto material e econômico.”

Além disto como algumas estações de televisão equiparam seus estúdios de acordo com o clima de guerra, como é o caso da “CNN” especialmente o estúdio de um de seus jornalistas mais proeminentes Anderson Cooper, até que estações de televisão do Catar e Arábia Saudita como Al-Jazeera e Al Arabyia entrevistarem analistas militares e estrategistas introduzindo nas suas entrevistas o sonho da queda do Estado Sírio, definindo até prazos para a queda com o objetivo de elevar o moral dos grupos armados e enfraquecer o moral dos sírios ..

“não há despertamento na mídia norte-americana,” O exemplo de Maloula, o que aconteceu nesta cidade histórica, ficou ausente na mídia dos EUA e da Europa durante vários dias. Um exemplo claro deste Ocidente, que proclame a defesa dos direitos das minorias, por um lado, enquanto, por outro lado, a sua mídia ignora o que está acontecendo com a minoria cristã nas mãos de grupos terroristas que não aceita o outro.

“não há despertamento nos meios de comunicação europeus também” por sua vez, afirma a escritora e jornalista Scarlett Haddad, dizendo: “Os meios de comunicação europeus em geral, e os franceses, em particular, são uma orquestra que toca em harmonia e com a decisão política.” Fortes evidências fornecidas pela jornalista Haddad afirmam a escassez de artigos que refletem as opiniões do outro lado, proibir colegas europeus de transmitir o outro lado da cena, de caras repetidas e frequentes que podem ser monitorados em vários canais.

Como então podemos entender o que foi publicado, por exemplo, pela “Paris Match” de fotos mostrando os crimes de elementos terroristas e incitamentos na Síria?

“Fotos que foram publicados estão alinhados com os acertos atuais e talvez pretextos para justificar qualquer futuro passo político perante o Estado Sírio” diz a jornalista do “L’Orient-Le Jour”, que acompanha a mídia francesa, acrescentando que “se os dados políticos mudarem novamente, o desempenho dos meios de comunicação vai mudar de novo.”

As coisas não chegaram até este ponto em termos de passos políticos perante o Estado Sírio, ou para contornar a oposição, pelo menos no nível dos Estados Unidos, e podemos perceber a influência popular que já citei acima no segundo angulo, e talvez o mais importante, a abordagem da mídia ocidental e seus desempenho recentemente, e sua compatibilidade com a “opinião pública”.

“A mudança de atitude na mídia ocidental é o resultado de um fato consumado imposto pela alteração do humor da opinião pública num País e o clima negativo no Congresso dos Estados Unidos para a implementação de um ataque militar contra a Síria”, sublinhando que “isso não significa que a mídia parou de desempenhar seu papel na formação da opinião pública ou que a sua agenda mudou, mas foi forçada a modificar o comportamento político desta vez, a fim de evitar situações que possam colocá-lo na posição de incredibilidade”.

Os meios da mídia do Ocidente não conseguem mais controlar a opinião pública, tendo em conta o papel da mídia eletrônica caracterizado nos sites de redes sociais, em que não foi possível, por exemplo, impedir a disseminação da famosa imagem de “comer fígados”. Consequentemente, o desempenho dos meios de comunicação ocidentais, desde o início da crise, até esta data dos acontecimentos na Síria não conseguiu atrair e conquistar uma opinião pública que apoia a guerra.

Veio a eleição presidencial síria decepcionando os países que apoiam a agressão, confirmado muitos fatos que o Ocidente já não pode ignora-los, mesmo aparentando o contrário nas suas declarações para reverter estes fatos «pois é obrigado a continuar a enganar», podemos ilustrar alguns destes fatos, como segue:

1. O Ocidente, que descreveu as eleições presidenciais na Síria de «ilegais» tem por dentro plena consciência que são legítimas, de fato, que surgiu uma nova realidade após esta eleição, que deve ser tratada de uma maneira diferente, o que foi expressado de forma explícita, peloo ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, que disse: «a comunidade internacional terá de conviver com o resultado desta eleição.»

Eleitores sírios no exterior: votação prorrogada- eleito Baschar Al Assad para desespero dos EUA e Europa e CCG

2. A ameaça do terrorismo, que se tornou uma realidade ameaçando o próprio Ocidente, os países do Ocidente imploraram para a Síria a realização de cooperação na segurança com o objetivo de evitar o risco deste terrorismo. Isto foi confirmado pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores no Parlamento Belga, Frank Krlman, que disse: «Síria luta hoje com os terroristas que a Europa vai ser forçada a combatê-los amanhã», Notícias vazadas foram revelados pelo jornal Financial Times sobre a cooperação acontecendo em pleno andamento entre as agências de inteligência europeias e a Turquia para controlar o fenômeno do ingresso dos cidadãos de países europeus  nas organizações terroristas que estão combatendo as forças do Exército árabe Sírio, ressaltando que este fenômeno começou a preocupar as agências de inteligência ocidentais temendo atos terroristas caso estes terroristas retornem a seus países de origem.

Isto, sem falar do surgimentos de novos fatos, e não somente o reconhecimento do que está acontecendo na Síria que  não é uma revolução, mas um terror devastador para todo o mundo, mas foi além disto com providências tomadas pela direção da rede social «Facebook» que retirou do seu site, a página” Revolução Síria contra o Presidente Bashar Al-Assad “.

3. A incapacidade dos Estados Unidos da América de esconder uma verdade, desde sempre confirmada pela Síria, chegando a hora de confessar e reconhecer, nas palavras da Chanceler do presidente dos Estados Unidos para Assuntos de Segurança Nacional Susan Rice, que seu país ofereceu anteriormente o auxílio «letal e não letal» a «oposição moderada» na Síria, após terem afirmado por longos meses que eles apenas fornecem apoio não letal à «oposição síria», sob o pretexto de medo das armas caírem nas mãos de grupos terroristas extremistas, que mais uma vez confirma o esgotamento do Ocidente e dos seus meios na escalada da violência, o que demonstra que qualquer discurso de escalada é apenas uma bolha de mídia.

4. Os Estados Unidos são forçados a reconhecer a realidade, que não pode mais ser ignorada, isto foi demonstrado na visita do Chanceler dos EUA John Kerry para o Líbano, chamando Hezbollah «que os Estados Unidos classifica como uma organização terrorista» a desempenhar um papel na realização do projeto de uma solução política na Síria ao lado da Rússia e Irã.

5. A queda da aposta em que a Rússia abandonará tudo que afeta a Síria e sua soberania em troca de ganhos que podem ser concedidos a Rússia na Ucrânia, o que foi confirmado pelo representante permanente da Rússia na ONU, Vitaly Churkin, excluindo a possibilidade de um acordo com os países ocidentais sobre a Síria em troca da aceitação do Conselho de Segurança de um projeto de resolução russa sobre a crise ucraniana, confirmando o encerramento das portas completamente da Rússia diante dos Estados Unidos, que rejeitou qualquer permuta sobre a Síria, sejam quais forem os ganhos para o lado da Rússia.

Estes fatos e outros, impostos sobre o Ocidente e suas ferramentas, confirma que a nova realidade a favor da Síria, coroada pela eleição presidencial síria, pela participação maciça e resultado, que foi o título de vitória e firmeza do povo sírio e do exército, com espera de uma reversão completa da cena no próximo período a favor da Síria contra as forças de agressão e conspiração.

Por outro lado virtual, muitos pesquisadores e escritores árabes, juntamente com alguns políticos americanos, indicam que a política seguida pelo governo dos EUA na Síria, é a política “muito inteligente” baseada no envolvimento da Rússia, Irã, Síria e Hezbollah em uma longa guerra exaustiva para todos e que resultará um lucro líquido para EUA-Ocidente-Israel lucro sem perdas, sem repercussões ou grandes custas extras.

Ao explicar essa teoria, estes pesquisadores consideram que o regime sírio – mesmo que ele parece sólido e consegue alguns avanços – mas as batalhas acabarão por exaurir o exército sírio tornando  no final, um exército fraco, exausto com batalhas internas com os grupos armados e torná-lo inútil para o conflito com Israel.

Quanto ao Irã, eles acreditam que o envolvimento do Irã nos assuntos sírios, não irá enfraquecê-lo apenas militar e economicamente, mas também o impede de custear projetos internos de desenvolvimento, e aumenta seu isolamento político na região, o que significa que a política de exaustão na Síria irá corrompe-la por dentro mais do que as sanções internacionais.

Para Hezbollah, acredita esta teoria, que as perdas humanas sofridas pelo partido e a participação na guerra em curso na Síria irá enfraquece-lo e impedi-lo de fortalecer a frente libanesa com Israel, além de ressentimento libanês interno de sua participação na guerra, junto com o regime da Síria.

Quanto a Moscou, dizem esses pesquisadores, que os americanos prepararam uma política de “envolvimento” para a Rússia no conflito sírio, de modo que tornou-se Moscou o alvo da ira e inimizade dos terroristas, no lugar de Washington, e no final os russos irão enfrentar uma guerra de exaustão contra o terror.

Isto na teoria virtual, mas os resultados realistas, indicam o seguinte:

– Para o esgotamento do exército e do governo sírio: Apesar do fato de envolver o exército sírio em batalhas internas, por um período de três anos, pode causar exaustão ao exército e isto parece normal, mas os resultados em campo, não indicam exaustão mas vitórias. Note-se que a questão de neutralizar a Síria no conflito com Israel em sua luta contra os grupos armados, não pode conduzir a um lucro israelense como diz a teoria, pois as organizações armadas, mesmo neutralizando Israel no conflito, não são conjunto conexo capaz de estabelecer aliança com Israel.

Isto é em relação a Israel, enquanto ao resto dos apoiadores da oposição síria de países ocidentais e vizinhos, notamos que encontram-se numa crescente preocupação com a exacerbação do terrorismo na Síria, Os europeus elevaram o nível de ameaça para o vermelho em sua reunião em Bruxelas, e alguns países árabes haviam pedido a Washington para não fornecer armas que a coalizão síria pede.

– Para o Irã: o gasto financeiro iraniano na Síria pode ser fonte de exaustão, mas que o que é alcançado no que diz respeito ao arquivo nuclear iraniano, e a corrida dos ocidentais ao Irã para tentar a abertura econômica, e a competição entre eles para obter os projetos enormes de investimento, desenvolvimento e petrolíferos com o Irã, como o reconhecimento dos EUA do papel regional para o Irã, não significa que o Irã vai cair em colapso financeiro por exaustão. Além disso, os ganhos estratégicos o Irã conquistou e conquista, com as vitórias alcançadas pelo exército sírio e seus aliados, não se comparam com a perda com os gastos.

– Para Hezbollah, de acordo com relatos de Israel, o Hezbollah ganhou experiência adicional, e tornou se uma séria fonte de ameaça.

Finalmente, chegamos à Rússia, o que não parece de modo algum como embaraçada ou esgotada, enfrentando todo o Ocidente, na Ucrânia, e foi capaz de anexar a Criméia, sem derramar nenhuma gota de sangue, e constata-se que, apesar de todas as ameaças anteriores, já não estamos lendo qualquer ameaça ocidental sobre o assunto da Crimeia: O Ocidente simplesmente capitulou com a vitória russa.

Em conclusão, parece que a realidade síria não corresponde ao pressuposto esquema ocidental virtual de exaustão. Hoje “Homs” que foi chamada “a capital da revolução” foi totalmente desinfectada e purificada, e aqui está o exército sírio se preparando para mais batalhas ou outros acordos, impostos pelo desmoronamento dos grupos armados e as perdas que sofreram no campo, e, portanto, todas as grandes cidades voltaram para os confins do estado … e a política de exaustão não atingiu ainda os seus objetivos.

Este foi o caso com a mídia virtual, a realidade era bem diferente. O regime não caiu e a Síria com seu povo está sólida resistindo.

O projeto de islamismo político que Washington e Ancara apostaram nele e o apoiaram caiu, onde o presidente da irmandade muçulmana no Egito resistiu somente por um ano.

Mais do que isso, verifica-se que o Islã político inclui diferentes equipes em diferentes sociedades incubadoras, e que o extremismo e violência, características da maioria dos jihadistas que não reconhecem os limites existentes, nem buscam construir democracias, reconhecem a cega violência como o único meio de estabelecer o Califado e retroceder centenas de anos para forçar uma interpretação política simples da religião numa realidade muito complexa.

Citamos aqui a publicação do jornal Newsweek na sua edição de 7 de novembro de 2014, trazendo o testemunho de um dos jihadistas do Estado Islâmico no qual ele confirmou o acordo que permite aos combatentes do Estado Islâmico cruzar a fronteira com a Turquia. Ele também apontou que alguns dos líderes no estado islâmico falam turco e conversam constantemente, via rádios, com as autoridades turcas.

A testemunha também observou que o exército turco oferece toda ajuda necessária para o estado islâmico combater os curdos. No mesmo artigo, um líder do Partido União Democrata afirmou que a Turquia não se satisfaz com tanta ajuda, mas está fornecendo armas para o Estado islâmico também.

O Caso Virtual superou tudo isso para criar uma outra imagem do realismo, mas as tragédias e guerras o desencadearam. E certifique-se de que a política não é construída com base em desejos, e aqui estão os Estados Unidos que remonta seu pragmatismo e vão se encontrar com os iranianos em Genebra, será que os árabes voltarão para o realismo evitando assim mais destruição do seus países, ou ficarão ligados nas telas, no seu mundo virtual.

CONCLUSÃO:

1. Todos os valores e princípios humanos sobre os quais foi criada a Organização das Nações Unidas passam por uma provação na Síria, e o Conselho de Segurança da ONU deve abandonar sua ambiguidade artificial sobre terroristas e sua classificação de terroristas entre benignos e malignos, e o Secretário-Geral das Nações Unidas e seus principais assessores devem respeitar a Carta das Nações Unidas, por intermédio de ajuda e auxílio em encontrar um fim para a crise na Síria e se abster de tomar posições políticas tendenciosas adotando noções distorcidas do assunto.

2. As partes que fornecem para os grupos terroristas armas, dinheiro e apoio político devem ser responsabilizadas por crimes contra a humanidade. O povo sírio não vai esquecer como estas forças têm formado uma anátema aliança para empobrece-lo e apoiar aqueles que decapitam as crianças sírias, e o povo sírio sente também gratidão para todos os países que estavam com a Síria em seu calvário, incluindo o Brasil.

3. O processo político é a única maneira de resolver a crise. A Síria tentar buscar uma solução política para a crise através de um diálogo nacional entre os sírios e com liderança síria, além disto “o governo está empenhado e envolvido em uma série processos de reconciliação com membros insurgentes que pertenciam aos grupos armados” e que querem entregar suas armas e voltar à vida normal nos pontos quentes, entretanto países ocidentais continuam a falar sobre munir grupos terroristas designados “moderados” por mais assistência e ajuda militar.

4. Os atos e crimes cometidos por grupos armados apoiados pelos países distantes e próximos tornaram se conhecidos de todos os sírios, fortalecendo os sentimentos de unidade nacional do povo sírio e fez ele ultrapassar “pequenas divergências” formando uma frente unida em defesa de seu país, por isso todos os sírios manifestaram o uso de plena vontade nas urnas para escolher o presidente deles.

5. Síria está exposta desde o início da crise a uma campanha enganosa de mídia exercida pelos meios de comunicação árabes e estrangeiros, recrutados como o braço mediático do grupos terroristas armados que cobrem os ataques terroristas contra o povo sírio, de civis e militares, e coordenam com eles a fabricação de massacres perpetrados por grupos armados contra os cidadãos sírios, filmando estes massacres e responsabilizando o exército árabe sírio e as forças da lei e da ordem por eles, sem o menor pensamento em fazer análise racional dos massacres, seus objetivos, e em que contexto foram realizados, com o único objetivo de desacreditar a Síria e denegrir a sua reputação no campo árabe, regional e internacional.

Embora a Síria respeite o seu comprometimento sobre os esforços políticos para acabar com a crise e seu desejo permanente de encontrar uma solução política no quadro do pluralismo político e dentro de um programa abrangente de reforma liderado pelos sírios de todas as etnias e camadas sociais e aceitar a missão de observação enviada pela Liga Árabe, chegando ao Plano proposto pelo enviado internacional Kofi Annan no processo político em 25 de marco de 2012, os grupos terroristas armados continuaram na violação de todos os planos e esforços políticos para resolver a crise, adotando o terrorismo e a violência armada contra o Estado e os cidadãos e os membros do Exército árabe Sírio e as forças da lei e da ordem, como o número de violações do plano do enviado da ONU já atingiu mais de 10.600 violações e custou a vida de centenas de mártires de civis e militares, bem como operações de sabotagem, o que afetou a infra-estrutura das redes de energia elétrica, dutos de óleo e gás, hospitais e escolas.

Mesmo as escolas não escaparam dos terroristas de pensamentos obscuros apoiados pelos países de petróleo do Golfo e as armas pérfidas turcas. O número de escolas devastadas ultrapassou 1.700 escolas, com prejuízos estimados em cerca de 500 milhões de libras, isto sem mencionar as vítimas no corpo docente, que registrou mais de 40 mártires nas mãos do terrorismo covarde que quer levar os filhos da Síria de voltar para as idades de ignorância e atraso.

O setor da saúde, que fornece gratuitamente seus serviços aos cidadãos sírios, não ficou intocável pela mão do terrorismo, hospitais e centros de saúde foram atingidos e saqueados, sofreram vandalismo, foram queimados e suas equipes médicas assaltados proibidos de exercer seus deveres humanitário, passa o número de hospitais que tinham sido atacados e sabotados por grupos terroristas armados, 38 hospitais e 132 centros de saúde, dos quais 25 Hospital foram reabilitados, as perdas do setor de saúde excederam a importância de 3,5 bilhões de libras sírias. Assim como o setor de energia elétrica, petróleo e gás, que teve um impacto negativo sobre o modo de vida dos cidadãos sírios e garantir o fornecimento desses serviços subsidiados pelo Estado a cada ano com bilhões de libras sírias.

É duvidosa a combinação de ataques de sabotagem contra os setores de serviços e de infra-estrutura por terroristas na Síria com as sanções econômicas injustas impostas pelos países ocidentais e alguns países árabes sobre os sectores económicos interessados em assegurar as necessidades do cidadão sírios na sua vida diária de combustível para aquecimento e gás doméstico e medicamentos para algumas doenças crônicas e outras necessidades, que têm um impacto negativo sobre a vida dos cidadãos e da capacidade de garantir as suas necessidades em uma tentativa de colocar a opinião pública síria contra o governo e acusando o estado de não fornecer serviços básicos aos seus cidadãos, mas o governo sírio continua a trabalhar ativamente para garantir essas necessidades e reparação de danos aos serviços de saúde e educação e setores de redes eléctricas e combustível, gás e transporte, além de enfrentar o terrorismo.

Esta grande quantidade de terrorismo diário contra a Síria e seus filhos não recebeu a atenção da maior parte dos meios de comunicação árabes e internacionais, e quando é abordado estudam seu efeito sobre o colapso do Estado e não pela condenação da natureza do ato terrorista de sabotagem criminoso, e isso era como incentivo maior de sabotagem e terrorismo.

O Observador não precisa de muita meditação para perceber os duplos padrões  utilizados no tratamento político e mediático sobre o que está acontecendo na Síria, por um lado, e do envolvimento de alguns meios de comunicação árabes e ocidentais em encobrir o terrorismo dos grupos armados e sua parceria no derramamento de mais sangue sírio, por outro lado. Se voltarmos na memória para todos os massacres cometidos na Síria percebemos que coincidiram ou se anteciparam às reuniões do Conselho de Segurança da ONU ou as reuniões da Assembleia Geral das Nações Unidas ou do Conselho de Direitos Humanos sobre a Síria, a fim de incitar a comunidade internacional contra o nosso país e explora-los politicamente para emitir posições fortes e convicções e condenações contra ele em fóruns internacionais, e só temos a rever as datas dos massacres que ocorreram e o que se seguiu de posições internacionais contra a Síria, assim teremos noção clara do contexto em que foram cometidos e para que, assim, podemos adivinhar o verdadeiro ator deles.

E o que chama a atenção também é a velocidade da condenação ocidental e árabe, em particular os países e as potências envolvidas no financiamento do terrorismo, fornecimento de armas e proporcionando refúgio seguro para os terroristas e facilitando a sua infiltração em território sírio, para esses massacres. Normalmente as declarações já estão prontas e coordenadas para acusar o Estado sírio e pedir sua condenação e se mover rapidamente para o pedido de emissão de uma resolução sob o Capítulo VII, abrindo a porta para uma intervenção militar em seus assuntos internos, enquanto esses mesmos países toleram em condenar os atentados terroristas perpetrados por grupos terroristas contra os cidadãos, infraestrutura e serviços de infra-estrutura da Síria, que garantem a vida diária dos sírios. Isto é um motivo para se questionar e ter sérias dúvidas sobre a pertinência destes países e seus meios de comunicação, em todos os atos de terrorismo e sabotagem cometidos na Síria.

O que nós esperamos para, neste contexto, exortar os responsáveis pelos meios de comunicação árabes para assumirem suas responsabilidades legais e morais, fazendo seus meios de comunicação respeitar o Código de Honra da mídia, e os acordos assinados entre os países árabes sobre a troca de notícias e adotar as informações corretas documentada de mais de uma fonte para alcançar o princípio básico na imprensa baseada na neutralidade e objetividade do trabalho, longe da política de inflamar paixões e incitar a luta sectária e sedição entre os filhos da própria nação para alcançar os objetivos pessoais ou os fins dos inimigos da nação e da pátria ..

6. Em conclusão, finalmente, eu lhe digo que fazer vista grossa, praticado pelas potências regionais já conhecidas, apoiadas pelos Estados Unidos e seus aliados ocidentais, em relação aos crimes cometidos por grupos terroristas contra pessoas inocentes, mulheres e crianças e todas as instituições econômicas, industriais e culturais da Síria tinha como objetivo retroceder a Síria trazendo ela de volta para a era de escuridão, mas isto nunca vai acontecer.

* Consul Geral da República Árabe Síria em São Paulo desde julho 2014. Ministro Plenipotenciário

Tradução: Georges Khouri

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