A etapa Saudita na Guerra contra a Síria 1

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Por Assad Frangieh.

Depois da reunião do G8 na Irlanda na qual os Estados Unidos e seus aliados ficaram acuados pela Rússia, um novo plano foi adotado na guerra contra a Síria. Seu destaque foi posicionar a Arábia Saudita representada por Bandar Bin Sultan e Saud Bin Faiçal, Chefe da Inteligência e Ministro do Exterior respectivamente, no comando desta fase e deixando o Qatar e a Turquia no papel de coadjuvantes financeiros e operacionais.

Portanto uma característica desta nova etapa é delegar a responsabilidade das operações militares à Arábia Saudita e o recuo dos qatarinos e turcos para um papel de apoio e suporte após suas fracassadas investidas em derrubar o governo da Síria e suas oito promessas não cumpridas desde agosto de 2011. O telefonema anunciado pela mídia na semana passada do Presidente Obama ao Rei Abdullah, foi uma mensagem aberta aos aliados que a Arábia Saudita passou a liderar a guerra contra a Síria.

Outro aspecto é o prazo dado a esta etapa. Ficou claro que os Estados Unidos manobrou sua diplomacia para encobrir os efeitos destrutivos da guerra sobre a Síria do ponto de vista infraestrutura de Estado, de sua economia e principalmente de seu papel resistente aos planos do novo oriente médio. As declarações de Genebra 1 e as viagens homéricas de Kerry não passavam de uma cortina de fumaça para esconder as intenções de Washington. O avanço campal do Exército Sírio, a presença maciça dos movimentos fundamentalistas que iniciaram seus recuos para dentro do Líbano, Jordânia e Turquia e, a opinião pública internacional que começou dimensionar as consequências diretas e indiretas de manter o Oriente Médio instável, leva a crer que um prazo até setembro de 2013 foi dado para a Arábia saudita cumprir o máximo de seu papel: ampliar a destruição e tentar marcar presença em campo até a nova reunião agendada do G8 e a cúpula Putin-Obama em Moscou. São três meses até lá.

O plano da Arábia Saudita consta nas seguintes ações:

a)      Unificar os grupos armados sob a “Coalizão Nacional Síria” na qual a Arábia Saudita conseguiu eleger seu presidente e deslocar o grupo do Qatar. As declarações que novas armas serão entregues a tais grupos não passam de preparativos para eventual sucesso em campo e que será usufruído unilateralmente nas mesas de negociações.

b)      Envolver grupos armados bem treinados, provavelmente integrantes de forças especiais de países aliados lutando sob as diversas denominações. A entrada declarada de 1500 combatentes por territórios turcos ao norte da Síria sob a bandeira do “Taleban Paquistanês” não passam de uma farsa de envio de tropas especiais pelo território da OTAN e pela “Turkish Airlines” em específico.

c)       Introduzir armamentos de maior poder de fogo em específico mísseis antiaéreos carregados nos ombros e mísseis antitanques de maior precisão e alcance.

d)      Remanejar a presença de seus militantes fundamentalistas na região central da Síria em direção ao norte, leste e sul no intuito de demarcar um mínimo espaço de área sob o domínio de tais militantes, algo de difícil realização estratégica em razão do poderio aéreo da aviação militar síria sob seu território.

e)      Pressionar a economia síria que já se encontra sob o cerco há vários anos, visando desvalorizar a moeda síria durante o mês de Ramadã quando as despesas das famílias aumentam.

f)       Forçar o recuo do Hezbollah abrindo uma frente de batalha no Líbano. As operações do fundamentalista Ahmad Al Assyr em Saida abortadas pelo Exército Libanês, os confrontos limitados na região do Bekaa e as provocações políticas lideradas pelo Partido Futuro de Saad Al-Hariri e Fouad Al Seniora em manter um “vácuo executivo” no governo libanês além de estimular a luta sectária por suas mídias, constituem ações deliberadas pela Arábia Saudita. A explosão do carro bomba em Bir-Al-Abd no subúrbio sul de Beirute, densamente povoado por xiitas, foi condenado por aliados e por inimigos inclusive os Estados Unidos e Israel… exceto pela Arábia Saudita, numa atitude considerada declaração de guerra aberta sectária.

g)      Reativar a intervenção militar direta de Israel de forma dúbia, mas que possa elevar a moral de seus combatentes que se encontram cada vez mais cercados e com suas rotas de manutenção e fuga cortadas.

Em suma, a fase do “Comando Saudita” mostra sua característica violenta e sanguinária contra o povo sírio no intuito de conquistar qualquer trunfo político antes de seus chefes sentarem-se nas mesas de negociações. O mês de Ramadã inspirará o povo da Síria a enfrentar seus inimigos. Sejam eles de longas barbas, sejam eles escondidos em suas túnicas pregando a Fé, mas servindo ao Diabo.

* O artigo contou com parágrafos do analista libanês Amin Al-Hutait.

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Um comentário sobre “A etapa Saudita na Guerra contra a Síria

  1. Responder Assad Frangieh jul 20,2013 19:48

    A Arábia Saudita iniciou seu processo sucessório. Provavelmente os herdeiros de Sultan Bin Saud ficarão fora disso exceto Bandar Bin Sultan que tenta compor maiores forças em assumir o dossiê Sírio. O fato de ele ser filho de mãe africana, suas chances no trono são improváveis exceto por golpe sustentado pelo Estados Unidos e que causariam uma guerra civil interna. Os sinais do fracasso eminente de Bandar Bin Sultan na Síria será a cartada final de seu afastamento da cúpula mandante e sucessória da Monarquia Saudita. Mesmo que aposte em ampliar a violência lá.

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