A destruição das antigas civilizações e a criação do império israelense 1

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Mesopotâmia- Iraque
Por Thomas de Toledo*

O Oriente Médio é um berço de antigas civilizações onde está grande parte da memória ancestral da humanidade. Localiza-se no encontro de três continentes, Europa, Ásia e África, e ainda possui gigantescas reservas de hidrocarbonetos (petróleo e gás natural). Atualmente, uma coincidência histórica pode ser notada: o consórcio Estados Unidos-União Europeia está destruindo por guerras as grandes civilizações do passado e no seu lugar fortalecendo um novo Império chamado Israel.

O Iraque é a antiga Mesopotâmia (desde a Suméria à Babilônia), um dos berços da escrita e da astronomia, e hoje está sendo invadido pelos EUA pela 3ª vez em menos de 25 anos (1991, 2003 e 2014). A Síria e o Líbano são a antiga Fenícia, onde surgiu o alfabeto e se desenvolveu grande conhecimento literário. O primeiro encontra-se numa violenta guerra contra mercenários estrangeiros que devastaram o país e o segundo vive sob o fantasma da volta da Guerra Civil.

Cerveja mesopotâmica- Iraque

No Norte da África, a Líbia, a Tunísia e o Egito foram vítimas de operações de “mudança de regime” por parte do consórcio euro-estadunidense, que levaram a resultados imprevistos. Líbia e Tunísia guardam a memória de Cartago, o único império que quase derrotou Roma e o Egito foi a mais gloriosa, duradoura e avançada civilização que existiu naquela região. Na Ásia, o Irã – a antiga Pérsia, permanece sob uma constante ameaça de ataque por Israel e Estados Unidos, este que está em guerra contra o Afeganistão e constantemente bombardeando o Paquistão.

Sítio arqueológico de Cartago Tunísia 

Mas o caso mais emblemático de todos é o da Palestina. Por ser uma região que historicamente se localizou como rota comercial entre 3 grandes civilizações (Egito, Fenícia e Babilônia), a Palestina sempre foi alvo de disputa. Quando o Estado de Israel foi inventado em 1948, o objetivo não era criar um “lar para judeus”, mas consolidar o colonialismo ocidental exatamente no contexto em que o imperialismo europeu era derrotado no imediato pós-II Guerra Mundial.

 Escavações em Jerusalém

Contudo, o projeto do Estado sionista não se resume a construir um pequeno país entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão, mas ambiciona estender-se do Rio Nilo ao Rio Eufrates, criando uma grande potência imperialista no Oriente Médio. Assim se compreende o que ocorre hoje em Jerusalém. Israel está expulsando os palestinos da cidade e construindo centenas de novos bairros, a fim de criar uma gigantesca metrópole de um futuro império, com milhões de habitantes. Mas com uma população exclusivamente de judeus. Para isto, estão apagando a história e destruindo vestígios arqueológicos das antigas civilizações que lá habitaram. Há inúmeras denúncias feitas na UNESCO de que Israel está concretando achados arqueológicos no bairro árabe de Jerusalém, o que pode ser visto por qualquer turista que visite a explanada das Mesquitas.

 

O antigo Reino de Israel não passou de uma confederação de tribos que durou poucas décadas e por isto sua memória é exígua. Como a única coisa que Israel tem a oferecer é sua mitologia aceita religiosamente como verdade, eles destroem a história, a memória e a arqueologia que desmente tais mitos. E assim consolidam o projeto imperialista e colonialista dos Estados Unidos e da União Europeia, pois quem controla tais Estados são as mesmas famílias proprietárias de grandes bancos internacionais. Famílias de sionistas que usam o judaísmo como pretexto para um projeto de dominação planetária, que tem o Oriente Médio como zona estratégica no fornecimento de gás e petróleo. Portanto, esta não é uma “agenda judaica”, mas uma “agenda sionista”.

 

Israel é a herança das ideologias racistas e colonialistas do século XIX. Por trás deste Estado está a ideia de que com a força das armas, pode-se destruir populações nativas para tomar suas terras como espanhóis, portugueses, franceses, ingleses e holandeses fizeram por 4 séculos contra os índios americanos. É preciso frear o expansionismo israelense antes que seja pervertido todo o legado das lutas anticoloniais que ocorreram desde as Independências latino-americanas do século XIX às descolonizações na África e Ásia do século XX.

 

Os ideais de Simon Bolívar, San Martin, Hildalgo, Morellos, José Martí, José Bonifácio, Gandhi, Mandela, Agostinho Neto, Ho Chi Min e tantos outros heróis das libertações nacionais são os mesmos de Yasser Arafat. Por isto, a causa palestina é uma causa de toda a humanidade. Ela é a causa que hoje resume a luta pela independência, descolonização, soberania e autodeterminação dos povos. O desfecho da “Questão Palestina” mostrará quais jurisprudências serão criadas para sustentar o Direito Internacional pelos próximos séculos.

 

Em suma, a causa palestina não está separada do que hoje acontece no Iraque, na Síria, no Líbano, no Egito, na Tunísia, na Líbia, no Irã, Afeganistão, Paquistão, em todo Oriente Médio, norte da África e centro da Ásia. Trata-se de um projeto de destruição da identidade coletiva, seja ela árabe ou muçulmana, mas com raízes profundas que se assentam na glória de antigos reinos e civilizações da região. O ocultamento da memória, a falsificação da história e a destruição dos tesouros arqueológicos são, portanto, partes conscientes no projeto imperial chamado de “Grande Oriente Médio”, com a criação do Império de Israel. Resistir a tudo isto é um dever da humanidade em defesa da liberdade e do direito à memória.

*Thomas de Toledo é professor de Relações Internacionais da Unip e secretário geral do Cebrapaz

 


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Um comentário sobre “A destruição das antigas civilizações e a criação do império israelense

  1. Responder ELAINE ERIG dez 17,2014 19:37

    Shame, we have to watch this silent deaf and dumb, who is after all the major terrorist covered by the mask of democracy!

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