A Conferência de Paz em Paris foi completamente inútil: todos sabem que sabem que se tornou impossível a Solução dos Dois Estados para Israelenses e Palestinos .

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Robert Fisk, The Independent (UK) 16/01/2017

Tradução livre Abu Hana Cairus

Trump não enviou ninguém. Netanyahu chamou o evento de “o ultimo espasmo do mundo que acabou”, o autocrático Mahmoud Abbas nem se incomodou em aparecer e Theresa May, a secretaria britânica de estado para trapalhadas, se contentou em mandar um bando de funcionários subalternos. Jonh Kerry, o mesmo que disse há 2 anos que a paz entre palestinos e israelenses tinha 18 meses para acontecer “ou estaria acabada”, anunciou desajeitadamente que o encontro de 70 nações em Paris tinha que “fazer a bolar rolar”, seja lá o que isso quer dizer.

Então, para que serviu isso tudo? Para o novo pateta a ocupar a embaixada norte-americana em Israel, nomeado por Trump, saber se vai residir em Tel Aviv ou em Jerusalém? Para Benjamin Netanyahu, o Colonizador/Colono-em-chefe parar de fazer exigências territoriais? Para os palestinos, que perdem terras diariamente para os ladrões de terra israelenses e são liderados por alguém cuja legitimidade depende de Israel reiniciar as negociações com os invasores? E isto, como foi anunciado pelo porta-voz francês, foi uma “mensagem subliminar” a Trump.

Meu Deus! Trump não recebe “mensagens subliminares. ” Ele tuita, como tuitou um “Seja forte Israel! ” Como responder a isso? Talvez, os garotos e garotas em Paris tenham recebido a mensagem pois nem uma única vez eles mencionaram a palavra “ocupação” e quanto a “apartheid” então, nem pensar. Quiçá, esperar que fosse mencionado algo simbólico como a mudança da capital norte-americana para Jerusalém? Não. Isto seria “inapropriado”, diria o poderoso Kerry. E pensar que tudo foi organizado para mandar uma “mensagem clara” para o Primeiro-Ministro de Israel (Trump, é claro) e para o Presidente dos EUA (Netanyahu, é obvio), que a solução dos dois estados era a única opção disponível.

E assim a tragédia palestina continua a ser negligenciada, em detrimento de agendas domesticas, para deleite dos israelenses, em meio as mortes em hospitais ingleses, a entrega de prêmios cinematográficos e muito aquém do destaque dado a Trump/Putin, aos russos no Oriente Médio, ao Isis, ao Brexit, aos refugiados na Europa e ao aquecimento global. O maior vulcão do planeta fumegando na Palestina e um dos maiores icebergs do mundo se descolando na Antártica. Adivinhem qual dos dois será a maior manchete? O que deu em nossas líderes? Os charlatães que cercam Theresa May estão preocupados porque a conferencia em Paris pode encorajar os palestinos a “endurecer” suas posições. Os palestinos podem “endurecer” suas posições? Pelo amor de Deus! Enquanto isso na Austrália, se pensa que o primeiro veto norte-americano na ONU na resolução anti-assentamento contra Israel tenha sido algo “profundamente inquietante. ” Parece que Malcom Turnbull, primeiro-ministro australiano, acha inquietante debater os assentamentos israelenses enquanto o resto do mundo acha os assentamentos inquietantes. O que será pior? A atitude pusilânime de Thurnbull ou a adulação de Theresa May a Trump, o futuro espião número 1 do Kremlin na Casa Branca? É, ela não ganhará um novo mandato britânico na Palestina.

Sejamos sérios, para que tudo isso? Qualquer um que tenha visitado a Margem Ocidental nos últimos anos – olhado as colônias judaicas construídas em terras árabes roubadas, testemunhado a situação deplorável em Gaza e a brutalidade da liderança do Hamas – sabe muito bem que a “solução dos dois-estados” se esgotou há muito tempo. Por que nos enganamos em pensar que a solução dos dois estados sobreviveria a cirurgia política operada no Oriente Médio pelo nosso grande líder, Tony Blair? Ele diria, se fosse honesto, que a charada está “completamente” e “irrevogavelmente” acabada.

E quanto ao resto dos árabes? Oh meu Senhor! Para nós, ocidentais, restam os cortadores-de-cabeça do Golfo, o ditador do Egito e os “rebeldes” da Síria. Nós vendemos armas para os sauditas para bombardear os iemenitas – o que também poderia encoraja-los a “endurecer” posições, como os palestinos. Nós mandamos dinheiro para manter os refugiados no Líbano porque a presença deles na Europa seria, para nós, “profundamente inquietante”. Nós amamos os rebeldes de Aleppo, mas odiamos os rebeldes de Mosul e qualquer comparação entre os dois seria, não tenham dúvida, muito inapropriada. Agora sim, esta é a verdadeira “mensagem subliminar” que teria sido enviada pela Conferência de Paz, em Paris, caso tivesse havido uma e se chamaria: “vamos fazer a bola rolar”.

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