Destino Incerto para Erdogan 2

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Por Assad Frangieh.

Quando o governo de Erdogan informou da reforma da uma praça central em Istambul na Turquia, já contava que qualquer manifestação que poderia surgir seria de dimensões pequenas e limitadas e logo voltaria tudo à normalidade. A surpresa foi o numero de jovens turcos que aderiram aos manifestantes e a rápida expansão dos protestos por diversas cidades do país.

taksim

Sem dúvida que não foi apenas um protesto de ambientalistas por querer retirar algumas árvores da Praça e nem a construção de um Shopping Center num espaço ocupado por habitantes locais. Nem mesmo em razão de uso excessivo da força pela polícia de choque contra as primeiras manifestações de rua da oposição. O que aconteceu foi o confronto entre os defensores de uma Turquia laica e os simpatizantes de um governo de doutrina islâmica.

O projeto do Governo prevê na reforma da praça “Al-Taqssim”, a reconstrução de uma fortaleza otomana que tinha sido destruída na era de Ataturk. Os manifestantes viram nisso uma provocação e um processo de retrocesso na doutrina laica do Estado Turco. Isso aconteceu poucos dias depois do atual parlamento turco ter proibido a propaganda de bebidas alcoólicas e sua exposição em vitrines e prateleiras. Além disso, o mesmo governo já tinha realizado mudanças constitucionais que restringiram o papel das forças armadas, sob o pretexto de exigências para sua integração na Comunidade Europeia. Tais mudanças não deixaram as altas patentes do Exército nada confortáveis. Vinte por cento da cúpula dos ex-comandantes turcos encontram-se em prisões condenados por supostamente ter planejado golpes militares. São 250 oficiais desde 2003 quando Erdogan assumiu o governo. Não se nega que desde 1960, o Exército teve participação na queda de diversos governos sob o pretexto de ameaças à doutrina laica do Estado.

Erdogan acusou imediatamente forças internas e externas na manipulação das manifestações em razão de suas rápidas mobilizações. Ele se referiu abertamente aos partidos turcos de esquerda, curdos extremistas e deixou seus noticiários acusarem serviços de inteligências militares. Desta vez poupou Bashar Al-Assad e disse ter capturado agentes estrangeiros. Os noticiários disseram que eram russos e iranianos.

Dez dias após o início das manifestações e a adesão de movimentos sindicais e sociais aos protestos enquanto Erdogan demonstra sinais de confronto e de arrogância política, as manifestações de rua começam levantar slogans pela queda do Governo. Segundo o principal líder da oposição e chefe do Partido Republicano do Povo fundado por Ataturk, Kemal Kilicdaroglu, as manifestações representam os indícios de uma “revolução adiada”. De qualquer forma, não se trata de uma “occupy” ou de uma “primavera”. A Turquia enfrenta seu confronto interno entre a doutrina laica de Ataturk e a ressuscitação modernizada do Islamismo Otomano.

Se a situação ferver nas ruas de Ankara, Izmir, Istambul e Adana, o bombeiro chamado será mais uma vez, o Exército.

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2 thoughts on “Destino Incerto para Erdogan

  1. Responder Claude Fahd Hajjar jun 10,2013 13:21

    Parece que o sonho encantado do Erdogan está fadado ao desterro.
    O modelo turco de um país moderno e governado pela Irmandade Muçulmana. como fora “vendido” o modelo turco de governo no início das revoltas árabes, foi derrotado pelas massas na praça Al-Taqssim.
    A população turca está dizendo “não” ao modelo islamissista, querem uma Turquia desenvolvida, produtiva e laica e sem o autoritarismo do Erdogan.

  2. Responder Kevork Djanian jun 14,2013 9:48

    Espero que o povo turco consiga brecar o seu governo, mas que fiquem brigando entre si por decadas, e parem de atrapalhar os seus vizinhos, como a Síria, a Armenia, a Grecia e Chipre, e tantos outros países.

    O que Erdogan e seu partido querem é justamente retroceder aos tempos do maldito império otomano!

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